Blogue de divulgação cultural, escrito por 28 pessoas. Um texto por dia, todos os dias.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Próteses: aparelhos de assistência ou mecanismos de melhoria?

por Parelho


Como tema de “conversa” para esta semana, optei por um tópico que ligasse todo o progresso científico e tecnológico que se tem observado nas últimas décadas a aplicações na Medicina e eis que me encontro a escrever sobre Próteses. Uma Prótese é o que, em Medicina, se chama a qualquer extensão artificial que substitua uma parte do corpo perdida num trauma ou ausente desde o nascimento.

Poder-se-ia pensar que o desenvolvimento das Próteses é resultado da evolução científica e tecnológica que se verificou depois da Segunda Grande Guerra, mas na verdade a sua origem remonta às antigas civilizações Egípcias, Gregas e Romanas. Mas é claro que a utilização de materiais como ferro, aço, cobre e madeira deu lugar ao uso de materiais mais leves e resistentes como a fibra de carbono e o alumínio, e que as próprias limitações funcionais dos modelos da época foram superadas com a introdução de controlos hidráulicos e pneumáticos e de microprocessadores computorizados, de tal forma que as Próteses têm sofrido um progresso exponencial nos últimos tempos.


Devo admitir que, à primeira vista, esta não parece ser uma temática muito interessante mas, na minha opinião, um assunto é sempre desinteressante até que se comecem a fazer as perguntas certas. Começamos com uma simples…

Se as Próteses têm sofrido uma tão grande evolução, porque não são divulgados os achados?

Os achados são divulgados, com certeza. Apenas não o são em meios que cheguem à maioria do público, sendo a sua apresentação feita em publicações e conferências que só à comunidade científica interessam. E a informação que de facto chega ao resto do público é escolhida muito seletivamente. E a razão para tal é muito simples. Por mais magníficos que sejam os aparelhos apresentados, eles constituem um serviço que será sempre personalizado, e isso implica custos de produção muito elevados, que quanto menos revelados, melhor.

E continuamos com as interrogações…

Existe, então, alguma utilidade em continuar a investir no desenvolvimento das Próteses?

Absolutamente! O estilo de vida que nós, civilização em global, levamos faz com que seja imperativo o desenvolvimento deste tipo de aplicações. Se enumerarmos guerras, acidentes de trabalho, acidentes de viação, defeitos congénitos, conseguimos elaborar uma lista de razões para apostar nestas iniciativas.

Até que chegamos ao cerne das discussões…

Mas se a tecnologia atual possibilita o fabrico de Próteses que permitem a um amputado ter uma vida virtualmente sem restrições e se o custo de produção constitui o principal entrave à disponibilização dessas Próteses, porque não investir um pouco na procura de materiais que ofereçam uma igual eficácia mas a um menor custo? Esta pergunta é imediatamente seguida de outra: não é isso que se faz na atualidade?

Surpreendentemente, não. Há já algum tempo que a diminuição do custo de produção deixou de ser objetivo primordial e passou para segundo plano, dando lugar a outros alvos, uns que são resultado da tão caraterística megalomania da civilização. É que produzir Próteses que possibilitassem uma vida “normal” aos amputados deixou de ser motivação suficiente e os investigadores procuram agora melhorar as Próteses de modo a que estas permitam desempenhos sobre-humanos.

Para quem pensa que isso é impossível, existem estudos que demonstram que velocistas Paraolímpicos com Próteses desenvolvidas com a mais recente tecnologia têm um consumo energético 25% menor que os velocistas regulares. Perante estes resultados, os investigadores alegram-se e a sua mente enche-se de possibilidades, e a aposta em investigação deste tipo ganha cada vez mais ênfase.


O rumo por onde tem enveredado a investigação neste campo tem sido alvo de muito debate pois teme-se que as Próteses comecem a ser desenvolvidas para fins que não os medicinais. Por exemplo, teme-se que passem ser utilizadas para o melhoramento funcional de indivíduos saudáveis de modo a criar uma “Super Raça”.

Mais uma vez, para quem pensa que isso não é possível, em 2002, um investigador britânico introduziu em si próprio um conjunto de elétrodos que lhe permitiram o perfeito controlo de um braço robotizado. Como resultado, desenvolveram-se comités que, até hoje, discutem se é eticamente correto, ou até mesmo desejável, o desenvolvimento científico para estes fins.

Estaremos nós longe de habitar uma sociedade parcialmente Biónica ou será apenas uma questão de tempo? Será moralmente aceitável amputar um indivíduo saudável com a finalidade de instalar uma Prótese que melhore as suas funções? Será justo interromper o desenvolvimento científico dessas Próteses? Não será mais importante o progresso tendo em vista cortes no custo de produção? Estas são perguntas que requerem reflexão e cujas respostas variam de pessoa para pessoa, de acordo com a visão que tem do mundo, e são com elas que vos deixo. Até à próxima!

Para os interessados em saber como se faz a montagem de uma Prótese nos dias que correm…

Sem comentários:

Enviar um comentário