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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Odisseia


por Inês D.

Estreou no início deste ano na RTP uma nova série de ficção de produção nacional. Escrito por Tiago Guedes, Bruno Nogueira e Gonçalo Waddington, conta com estes dois atores como protagonistas de uma viagem pelo país numa autocaravana, filmada no verão de 2012. É descrito pelos próprios como “uma série sobre pessoas que estão a tentar fazer uma série”; conta duas narrativas cruzadas: a dos dois amigos numa viagem sem rumo definido e aquela que pretende ser a documental sobre a conceção e realização da série. Não faltam interrupções e comentários dos autores ao próprio texto ou os bloopers incluídos no seguimento das cenas. Conta ainda com participação regular de Nuno Lopes, de Carla Maciel, mulher real e ficcional de Gonçalo, Miguel Borges e muitas participações especiais, com destaque para a enorme Rita Blanco no 4º episódio.



Confesso que, a princípio, não estava com vontade de ver este novo programa. Não tenho o hábito de ver televisão em tempo de aulas e, além disso, pensei que esta série seguiria os mesmos moldes de outras que têm passado pela estação pública. Mas, curiosa com críticas que fui lendo após a estreia, e graças à RTP PLAY, decidi-me a ver de que se tratava. E a verdade é que fiquei muito bem impressionada. Algures entre o drama e a comédia, Odisseia destaca-se e distancia-se de todas as que pude ver até agora. Não sei o que esperar em cada episódio e o fim de cada um deles deixa-me desejosa de mais.
À semelhança de Último a Sair, Bruno Nogueira e companhia conseguem trazer até nós uma série original, que parece pensada ao milímetro para surpreender, confundir e dividir opiniões. Muitos têm elogiado a série e escrito sobre a lufada de ar fresco que apareceu na grelha da RTP e no humor nacional, tantos quantos os que têm escrito e fundamentado o quanto odeiam o programa. Na minha opinião, o texto é bom e este tipo de comédia de situação é particularmente divertido – bom humor a surgir do drama; gosto de ser surpreendida e Odisseia está repleto de momentos inesperados e pequenos detalhes muito inteligentes; tudo está muito bem filmado e editado (falamos do realizador de Coisa Ruim) e conta com seguras interpretações de Gonçalo, Bruno e Nuno Lopes.
 Por esta altura, já toda a série foi escrita, filmada e montada e os (à data em que escrevo) 8 episódios que ainda faltam ser transmitidos não sofrerão alterações. Resta-me aguardar pelos próximos capítulos e esperar que não me façam arrepender das linhas elogiosas escritas acima. A ficção nacional precisa de (esta) qualidade.

Todos os programas estão disponíveis no sítio da RTP em http://www.rtp.pt/programa/episodios/tv/p29649

3 comentários:

  1. POR FAVOR NÃO CONFUNDIR A QUALIDADE DO "ÚLTIMO A SAIR" COM A QUALIDADE DA "ODISSEIA".

    Odisseia é a péssimo enquanto o "Último a Sair" é o melhor programa de humor desde os tempos de Gato Fedorento na Radical.

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  2. Olá, Inês! Antes de mais, deixa-me iniciar o meu comentário com as devidas congratulações ao teu artigo, nomeadamente no que toca ao louvável tema de escrita. É sempre bom trazer algum destaque à qualidade de algo nacional! :-)

    Admito que, tal como tu, estava inicialmente relutante em me atrever a visualizar esta série. Por diversas razões, sendo que uma das principais seria talvez as baixas expectativas que costumo ter estandardizadas para programas nacionais. No entanto, diversos comentários de amigos e colegas de curso e, depois de o ler, o teu próprio artigo convenceram-me a dar-lhe uma oportunidade. E devo dizer que não me arrependi.

    Quebrar a 4ª parede, séries e filmes auto-conscientes de que são uma obra ficcional, e inclusões de cenas "atrás das câmaras" não são propriamente nada de novo. Já foi um recurso usado previamente para efeitos cómicos e é algo que, a meu ver, geralmente funciona impecavelmente. A referir-se, temos o filme Inadaptado, a série Monty Python's Flying Circus, a curta "Duck Amuck" dos Looney Tunes, e finais de filmes como Monty Python e o Cálice Sagrado ou Balbúrdia no Oeste.

    Odisseia não traz propriamente nada de extraordinariamente novo nestas técnicas, mas tem o pormenor fantástico de fazer destas uma presença constante e imprescindível nos seus episódios, tirando proveito das mesmas da melhor maneira possível. A sua imprevisibilidade, o elemento surpresa das cenas metaficcionais, e o contraste tão abrupto com as cenas dramáticas dão-lhe um toque especial que, para mim, muito elevam o seu potencial humorístico.

    As idiossincrasias típicas das personagens de Bruno Nogueira e Gonçalo Waddington, bem como as interpretações dos outros actores recorrentes como o Nuno Lopes e Miguel Borges, são outro elemento fantástico, e conseguem mesmo condizer bem com todo o ambiente e espírito típico do programa. No entanto, o destaque vai mesmo para os valores de produção e para a escrita, que junta surrealidade com humor de um modo singular.

    Tal como tu, fiquei agradavelmente impressionado pela "lufada de ar fresco" que o programa trouxe à grelha da RTP, e ao repertório geral de séries nacionais. Parece realmente promissor, extremamente criativo, e com o potencial para surpreender imenso. Já para não falar do quanto me faz rir, o que, para um programa nacional, é algo que tem sido raro.

    Despeço-me assim, reforçando novamente as congratulações pelo artigo e aproveitando para agradecer pelo mesmo ter sido um outro elemento motivador para me fazer ver esta série que tanto acabei por apreciar. ;)

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  3. Fiquei surpreendido com os comentários tão entusiásticos da Inês e do "Lostio", porque, como diz este último, a série Odisseia não é um modelo original. Enquanto o "Último a sair" ridicularizava os big brother e modelos do género, a "Odisseia" ridiculariza outros modelos de séries filmadas em diversas Concelhos do interior de Portugal Continental e pagos pelas respetivas Câmaras Municipais. O conteúdo não interessa, apenas que apareçam algumas cenas cómicas, dramáticas, de ação, com uma variedade suficiente para servir de pretexto para mostrar algumas paisagens locais. A "Odisseia" apresenta os bastidores desse tipo de séries, ridicularizando as situações, as relações interpessoais, os conflitos que estão latentes entre as "vedetas". A fórmula esgota-se ao fim de um episódio. O "Último a sair" foi como uma anedota bem contada, que tem piada a primeira vez que é contada, mas deixa de ter graça quando é contada repetidas vezes. A "Odisseia" nem tem grande piada contada pela primeira vez, porque há limites para o absurdo, para o "non sense", para não passar o limite do mau gosto que se pretende ridicularizar. Enfim, estimo que a série acabe depressa para não desgastar mais, sobretudo, o talento do Bruno Nogueira.

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