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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Não tem de ser assim


por Luís Noronha


Tem de acontecer, porque tem de ser
e o que tem de ser tem muita força
E sei que vai ser, porque tem de ser
Se é pra acontecer, pois que seja agora

(Seja agora – Deolinda)



Não! O fado, o destino, a sorte, não estão escritos nas estrelas. Os horóscopos são uma artimanha para apanhar os crédulos, os ingénuos, os incautos que acham que “sempre foi assim”… Não foi.
Sempre foi assim
dizem
sempre foi assim
sempre foi assim
mas está a ser diferente

(Sempre foi assim – Sérgio Godinho)


A sociedade em vez de avançar está a regredir. As ideologias não morreram, pelo contrário, ressuscitam as que pensávamos já mortas e enterradas.

As nossas esperanças, mais do que isso, as nossas convicções eram de um futuro melhor, menos desigual, maior justiça social, mais garantias para a paz, maior participação popular na definição dos seus destinos (mais democracia participativa).

As empresas não precisam tanta mão-de-obra, com a utilização de mecanismos robotizados, com o desenvolvimento da informatização. Seria de esperar que para igual produção, com o mesmo lucro, sobrasse tempo ou horas de trabalho para os trabalhadores as usarem para a família, para a formação, para o lazer, para o desporto, para a cultura, para as viagens, para a sociedade.

Pelo contrário, as empresas passaram a despedir de forma mais livre, a pagar cada vez menos pelos despedimentos, a usar a chantagem do contrato a prazo, precário, à tarefa, para garantir uma “colaboração” submissa e sujeita a falta de regras mínimas. Sem o “colaborador” reclamar, sem fazer greve, sem se manifestar.

Nas regras de convivência entre pessoas e países agravou-se a defesa do direito do mais forte, do mais rico.


A desigualdade aumenta entre ricos e pobres. Inculca-se a ideia de que os países ricos não têm de distribuir com os mais pobres. As regiões ou os concelhos onde se “gera mais riqueza” não têm de ser “prejudicados” pelos menos desenvolvidos. Esquecendo que essa “riqueza” é a receita apresentada pelas empresas que têm sede nesse país, nessa região ou nesse concelho. Mas cujos produtos são consumidos em todo o lado. Ou seja, uma empresa que produz automóveis no país A, mas tem sede no país B, as receitas são cobradas no B. Pela ideologia dominante esta “riqueza” deve ser exclusivamente pertença do B…

Cresce alguma apatia em relação ao aumento da pobreza, contrariada apenas pela “caridade”. É um aliviar de consciências dos que têm cada vez mais e que acham que os outros que são atirados violentamente para a indigência aguentam cada vez maior austeridade. “Ai aguentam, aguentam” (Fernando Ulrich, presidente do banco BPI).


A propósito da caridade, disse o padre Jardim Moreira, pároco numa zona pobre do Porto e da rede europeia anti-pobreza, na RTP:
“Em caso de emergência é necessário que ninguém morra de fome, mas que ninguém tenha de ir buscar por piedade o que devia ser dado por justiça”.

O Estado só tem razão de ser para proteger os seus cidadãos e para cumprir e fazer cumprir as leis que regulam o funcionamento justo da sociedade. Mas atualmente está ao serviço dos que exploram os cidadãos, cujos direitos estão a ser encurtados para que os detentores do capital possam ditar as suas leis de “mercado”, ou seja, aplicar as receitas da especulação lucrativa ditada pelas “praças financeiras”.

Estão a ser roubados direitos fundamentais sobretudo aos que não têm culpa da situação de depressão económica que foi causada pela ganância e descontrolo dos “mercados”.

O Estado “em primeiro lugar deve defender as pessoas, os seus direitos e a sua dignidade e a capacidade de ser feliz”…”o dinheiro não é tudo na vida, há uma inversão de valores, a subalternização das pessoas em detrimento de um projeto político.” (Padre Jardim Moreira)

Apesar do quadro negro, nunca terá havido na sociedade portuguesa uma convergência tão clara da necessidade de inverter esta situação.
E em muitos a convicção que é preciso transformar a força em energia!

“Não me digas que não me compreendes
Quando os dias se tornam azedos
Não me digas que nunca sentiste
Uma força a crescer-te nos dedos
E uma raiva a nascer-te nos dentes

Não me digas que não me compreendes”
(Sérgio Godinho – “Que força é essa” – álbum “irmão do meio”)




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