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sábado, 8 de dezembro de 2012

O Bosão de Higgs - Partícula de Deus

por Miguel Furtado

8 de março de 2012:
“Chegaram notícias do  Fermilab que vêm no seguimento das anteriores do LHC.
http://www-cdf.fnal.gov/physics/new/hdg/Results.html
Aparentemente confirma-se o Higgs.
Boas noticias!
Nota: começam a testemunhar descobertas. Vão registando. Daqui a uns anos esta informação passará a constar nos manuais como se tivesse sido sempre assim.
E não foi.”

Previsto em 1964 por Peter Higgs como possível argumento para o Modelo Padrão da Física de Partículas, a “quase certeza” da sua descoberta foi anunciada cerca de meio século depois, a 4 de julho de 2012, fruto do avanço tecnológico verificado desde então, nomeadamente, do desenvolvimento do LHC – Large Hadron Collider.


O modelo referido é responsável pela unificação das forças fundamentais electromagnética, nuclear forte e nuclear fraca e classifica as partículas em dois tipos: fermiões, que constituem a matéria, e bosões, responsáveis pela transmissão das forças. Um exemplo de um bosão é o fotão, partícula que intervém na força electromagnética, compondo a luz visível, os raios X, as microondas, etc.

É aqui que entra o Higgs. Teoricamente, é um componente do campo com o mesmo nome, que existe em todo o espaço, responsável por atribuir da massa à matéria. Uma forma simples de entender esta atribuição de massa é a chamada “the cocktail party analogy” representada na imagem seguinte.



De certa forma, a massa é como um “atrito” com o campo de Higgs. E o que explica a massa do próprio Bosão? Como que pode ser superior à massa de algumas outras partículas (ex: protão)? De igual modo, o Higgs também interage com o campo, ou seja, um bosão está sujeito ao “atrito” provocado pelos outros bosões, mais até que certas partículas.

O Higgs foi estimado por métodos sofisticados, com 95% de certeza (probabilidade de um em um milhão de ser apenas uma flutuação estatística), através da colisão de protões. Após o choque, o bosão tende a decair em partículas mais estáveis e possíveis de serem detectadas uma vez que a cada decaimento está associado um valor discreto de energia.


No entanto, a confirmação absoluta desta descoberta só será feita quando toda a análise dos resultados for efectuada com o devido cuidado, mais propriamente, quando se descobrir as restantes propriedades da partícula e se estas estão de acordo com a teoria formulada.

Popularmente, é conhecido como a partícula de Deus, tradução do título do livro de Leon Lederman, publicado para explicar a teoria por de trás deste bosão. Naturalmente, desde então têm sido feitas associações entre o Higgs e existência de um ser superior ou a religião no geral, o que é errado segundo a comunidade científica. O autor queria intitular o livro como Goddamn Particle (Partícula Amaldiçoada), mas foi considerado demasiado agressivo pela editora, sendo esta a sugerir The God Particle, apenas aceite por Lederman porque a partícula existe em todo o Universo. No entanto, a omnipresença do Bosão não é diferente da do fotão e, apesar deste fornecer massa à matéria, todas as partículas têm a sua devida importância.


Mas então, se não é um elo de ligação entre a religião e a ciência, para que servirá o Bosão de Higgs, para além de completar a teoria da Física proposta? Na verdade, o próprio Peter Higgs admite não fazer ideia. O tempo de vida desta partícula é muito pequeno, mesmo comparado com o de outros tipos de partículas, algumas destas que, actualmente, já são utilizadas na prática com dificuldade. Todavia, este incerteza também ocorreu aquando da descoberta do electrão, por isso, a conclusão a retirar é que ainda é cedo para pensar nas suas aplicações práticas. Não deixa de ser uma descoberta marcante na História e, se entretanto for totalmente confirmado, não há muitas hipóteses de Peter Higgs, que não conseguiu esconder as lágrimas no dia 4 de julho, perder o próximo Nobel da Física.

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