por Lostio
“Trabalho Sexual é Trabalho”, enuncia corajosamente o slogan de uma campanha lançada recentemente pela Rede sobre Trabalho Sexual. Convido os leitores a darem uma rápida olhadela ao seguinte vídeo, que dura apenas 1 minuto e que servirá de introdução para o tema que elaborarei neste artigo.
“Trabalho Sexual é Trabalho”, enuncia corajosamente o slogan de uma campanha lançada recentemente pela Rede sobre Trabalho Sexual. Convido os leitores a darem uma rápida olhadela ao seguinte vídeo, que dura apenas 1 minuto e que servirá de introdução para o tema que elaborarei neste artigo.
Vejamos um pouco a
fundo o que constitui a prostituição e outros tipos de trabalhos sexuais. Ao
fim e ao cabo, são cargos destinados a puro entretenimento adulto por via
sexual. Quero, assim, focar que nenhuma das partes envolvidas está a ser
prejudicada ou a fazer qualquer mal para a sociedade ao realizar o seu
trabalho. Classificações impróprias como “desonroso” ou “degradante” são
frequentes, mas temos que nos aperceber que não existe nada de criminoso nestes
trabalhos, pois ninguém está a retirar liberdades ou direitos a outrem.
Antes de mais, um
estereótipo a ser derrubado: É perfeitamente possível, e mais comum do que se
pensa, haver pessoas que optam em realizar trabalho sexual porque efetivamente
o desejam e querem essa vida. E, tal como tenho vindo a reforçar na maioria dos
meus textos, eu acredito que o nosso papel principal é o de respeito
e aceitação perante quem escolhe esse estilo de vida.
Há, no entanto,
que dar a devida atenção à prostituição.
Muitas vezes, criamos uma automática associação entre este trabalho e medidas
de desespero, ou exploração das prostitutas e tráfico humano. Estamos a assumir
erradamente que, quem decide seguir a via da prostituição, está a fazê-lo por
algum tipo de obrigação, ou porque não vê outra maneira de obter dinheiro, ou
porque algum terceiro elemento forçou-lhe esta via. Daí o possível choque em
reação à ideia de “legalizar a
prostituição”.
É neste contexto
que pretendo reforçar que o controlo de
tráfico humano e a legalização do
trabalho sexual são conceitos diferentes. Na realidade, a inclusão
dos Direitos do Trabalhador no âmbito do trabalho sexual iria ter um impacto
positivo em evitar que prostitutas fossem indevidamente exploradas, porque,
assim, existiriam direitos legais aos quais poderiam recorrer para se defender
de exploração no meio de trabalho. Caso contrário, o poder fica todo nas mãos
dos donos de bordéis e dos clientes, e, se as prostitutas desejam continuar
nessa linha de trabalho, vêem-se obrigadas a se submeter às condições impostas.
Isto porque, aos olhos da Lei, as prostitutas são vistas como delinquentes e
não como vítimas.
A política atual
perante a prostituição é a chamada abolicionista,
ou seja, a atividade não é proibida, mas existem restrições alfandegárias e não
há qualquer reconhecimento legislativo da atividade num contexto profissional.
A meu ver, temos
de reconhecer que este tipo de trabalho é, para todos os efeitos, um trabalho.
Em vez de pintarmos retratos sociais estereotipados sobre as motivações e as
razões que levam as pessoas a seguir esta via, devemos simplesmente
fornecer-lhes a liberdade para a executar com as devidas proteções no meio de
trabalho, e com os devidos direitos, para que, quem o deseja, faça do trabalho
sexual o seu emprego.
Reforma, férias,
boas condições de trabalho, reconhecimento do emprego e abolição da
estigmatização são objetivos que eu considero admiráveis e sensatos. A meu ver,
beneficiaria ambos os lados: os trabalhadores sexuais estariam menos sujeitos à
exploração pelos empregadores, e o próprio Governo começaria a receber impostos
associados aos rendimentos de trabalho. Tal como em tudo, a permissão não
implica obrigação – não estamos a encorajar este tipo de trabalhos, estamos
apenas a fornecer alguma proteção e estabilidade a quem decida escolhê-los.
Curioso como, no
mundo mais moderno, não se reconhece legalmente a profissão mais antiga. Para
os mais interessados, deixo aqui um artigo a ler:
Gostei e concordo plenamente. É daquelas coisas que ainda é demasiado tabu na nossa sociedade. Quando se pensa em prostitutas pensa-se em viciadas em heroína, sem qualquer respeito por si e controladas por um chulo qualquer. Penso que começou a mudar um pouco desde que a ideia de acompanhante de luxo se começou a introduzir nos media e etc.
ResponderEliminarAinda temos um longo caminho a percorrer até que estas pessoas tenham a sua profissão devidamente reconhecida e legalizada mas penso que é através de divulgações como estas que podemos abrir os olhos a muito boa gente.
Olá, Lilrien! ;)
EliminarSim, realmente a prostituição e trabalho sexual em geral constitui ainda um enorme tabu social, o que é uma infelicidade, pois assim a luta pelos seus direitos e legalização não consegue ganhar qualquer relevância e destaque, dificultando a sua efetiva realização.
As ideias de acompanhantes de luxo e alguma influência dos media têm ajudado a combater os estereótipos que induzem em erro, mas é impossível negar que a batalha ainda será longa e duradoura. Só apostando na divulgação de informação e em campanhas como esta da Rede Sobre Trabalho Sexual, é que eventualmente conseguiremos mesmo "abrir os olhos a muito boa gente", como dizes e bem.
Obrigado pelo comentário! :)
Mais um exemplo em que o proibicionismo é mais um problema do que uma solução. Favorece a clandestina exploração e criminalidade. E é mais uma forma de atividade económica paralela e de fuga de capitais.
ResponderEliminarCaro Luís,
EliminarNão poderia concordar mais! Muitas vezes se vê o proibicionismo como uma medida facilitista, que elimina o mal, quando que, na verdade, apenas o propicia a expandir-se em condições cada vez piores e mais perigosas para quem se sujeita a isso. Assim o foi para as drogas, e assim o é para este assunto.
Além de que, tal como diz, a prática desta atividade por via ilícita constitui uma deplorável maneira de contornar impostos de rendimento. E, portanto, ambas as partes ganhariam algo em eliminar este proibicionismo.
Muito obrigado pelo comentário!
Abraço