Sabemos
que o acto de ensinar baseia-se no chamado “Contrato
Didáctico”, isto é, a aquisição de conhecimentos é executada por via da
relação epistémica professor- aluno/ aluno-professor e as maneiras de pensar e
agir de ambos face ao próprio conhecimento, salientando-se os direitos e
deveres de cada um.
Contudo,
se recuarmos na História da Educação apercebemo-nos de que o dito “contrato” nem sempre se apresentou com
os contornos de hoje, uma vez que tem vindo a ser moldado de acordo com as
estratégias de ensino e aprendizagem, processadas por modelos pedagógicos
específicos.
Debruçando-nos
sobre o clássico berço das cidades-estado - Atenas e Esparta - são-nos
apresentados dois modelos educacionais distintos. Em Atenas há a necessidade de
cultivar o espírito, o intelecto, a busca do equilíbrio entre o corpo e a
mente, surgindo a noção de Paideia. Neste
cenário, o Professor (paidotribes,
professor de ginástica; kitharistes,
professor de música) é, também, mestre (grammatistes,
responsável por ensinar os alunos a ler, a escrever e a contar). Por sua vez,
em Esparta destacam-se as “escolas-ginásio” e, com estas, os “cidadãos
guerreiros”, que tinham uma educação militarista, extremamente conservadorista
e com um acentuado sentido pragmático. É então que se evidencia a organização
da educação, pela criação de um órgão administrativo com funções de supervisão,
o designado “paidonomos”.
Se
atendermos às primitivas conceções de Educação, acima referidas, vemos que
estas duas distintas formas de ensino são os pilares daquilo a que, mais tarde,
se chamariam de antinomias pedagógicas: “humanismo”
(uso da razão; afirmação do homem) versus
“sociedade do conhecimento” (no
sentido da incessante funcionalidade) e “escola
tradicional” (cânones) versus “escola nova” (ser racional, autónomo e
agente de mudança).
Acaso
haverá um lado comum nestes modelos? Será a sua análise indispensável na
formação de docentes? Quais os caminhos percorridos hoje pelo Ensino e que
contrato didáctico subsiste?
Na
verdade, estas estratégias de ensino visam incutir, sob diferentes perspetivas
e ideologias, valores sociais e comportamentais para a boa formação do Ser.
Demarcaram-se
enquanto estereótipos de sequências didáticas que devem ser analisados pelos
docentes e futuros professores, de modo a que estes possam tomar uma melhor
perceção do que já foi tido como paradigma e o “porquê” da sua refutação, bem
como poderem enquadrar-se nas exigências promulgadas hoje e construírem as suas
próprias estratégias e práticas pedagógicas.
- Humanismo versus Sociedade do Conhecimento. O primeiro (“Homo sum: humani nil a me alienum puto”)
vislumbrava uma educação romântica, vinculando a alteridade da Pessoa e destinguindo a pedagogia como o
princípio do Ser. O segundo,
alicerçado, sobretudo, na transmissão cultural e na interação social (o Eu e o Outro). Em pleno século XXI, este último, acaba por se nutrir da
contemporânea “sociedade do conhecimento”, da sobrevalorização do poder
económico, político, informativo e tecnológico (Parecer e Ser residem em
ambiente conflituoso).
- Escola Tradicional versus Escola Nova. No século XVII o
aluno é visto como um objecto a ser modelado, por um processo de transmissão de
conhecimento depositário (numa fase tardia, apontada por Freire como Educação Bancária) que atribuía ao
Professor o papel de sujeito activo e detentor primordial do conhecimento.
Estamos, assim, defronte para a Escola
Tradicional. Mais tarde, no século XIX há uma reformulação pedagógica, na
qual o aluno afirma-se como sujeito que aprende e que descobre o saber pela
orientação e estímulos dados pelo Professor, a denominada Escola Nova.
Mas,
hoje, onde nos situamos? Qual a transformação?
“A
criança é o ponto de partida, o centro, o fim…”
- in L’école et l’enfant, Dewey (1956)
Prosseguindo caminho
e trazendo todo um legado de transformações educacionais, mais ou menos
profundas, o Ensino apresenta-se hoje como a conjugação entre a diversidade
e a unidade. Uma estrutura que deve ser capaz de se adaptar à criança, num
modelo activo e de trabalho de projecto (individual e de grupo, na presença de
um orientador – o Professor).
Assim,
os elementos estruturais desta relação pedagógica assentam na multipliciadade,
na inovação de directrizes, na educação crítica, no diálogo e num carácter
alocêntrico (o Eu, o Outro e uma aceitação recíproca).
Neste
panorama, o Contrato Didáctico é
delineado atendendo à heterogeneidade e defesa da liberdade, afirmando-se não
só pela auto-estruturação ou auto-aprendizagem do aluno e do professor, bem
como pela interestruturação (o Nós,
enquanto terceira entidade capaz de convergir e de divergir opiniões,
fomentando uma mútua evolução, no crescimento pessoal do Professor e do Aluno).
No
espelho acreditamos ver uma Educação Progressista.
Para lá da imagem, reflectimos,
enquanto agentes pedagógicos.
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