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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

'Extreme makeover' no Ensino

por Sara Moreira Garcia




            Sabemos que o acto de ensinar baseia-se no chamado “Contrato Didáctico”, isto é, a aquisição de conhecimentos é executada por via da relação epistémica professor- aluno/ aluno-professor e as maneiras de pensar e agir de ambos face ao próprio conhecimento, salientando-se os direitos e deveres de cada um.

            Contudo, se recuarmos na História da Educação apercebemo-nos de que o dito “contrato” nem sempre se apresentou com os contornos de hoje, uma vez que tem vindo a ser moldado de acordo com as estratégias de ensino e aprendizagem, processadas por modelos pedagógicos específicos.

            Debruçando-nos sobre o clássico berço das cidades-estado - Atenas e Esparta - são-nos apresentados dois modelos educacionais distintos. Em Atenas há a necessidade de cultivar o espírito, o intelecto, a busca do equilíbrio entre o corpo e a mente, surgindo a noção de Paideia. Neste cenário, o Professor (paidotribes, professor de ginástica; kitharistes, professor de música) é, também, mestre (grammatistes, responsável por ensinar os alunos a ler, a escrever e a contar). Por sua vez, em Esparta destacam-se as “escolas-ginásio” e, com estas, os “cidadãos guerreiros”, que tinham uma educação militarista, extremamente conservadorista e com um acentuado sentido pragmático. É então que se evidencia a organização da educação, pela criação de um órgão administrativo com funções de supervisão, o designado “paidonomos”.

            Se atendermos às primitivas conceções de Educação, acima referidas, vemos que estas duas distintas formas de ensino são os pilares daquilo a que, mais tarde, se chamariam de antinomias pedagógicas: “humanismo” (uso da razão; afirmação do homem) versus “sociedade do conhecimento” (no sentido da incessante funcionalidade) e “escola tradicional” (cânones) versus “escola nova” (ser racional, autónomo e agente de mudança).

            Acaso haverá um lado comum nestes modelos? Será a sua análise indispensável na formação de docentes? Quais os caminhos percorridos hoje pelo Ensino e que contrato didáctico subsiste?
            Na verdade, estas estratégias de ensino visam incutir, sob diferentes perspetivas e ideologias, valores sociais e comportamentais para a boa formação do Ser.

            Demarcaram-se enquanto estereótipos de sequências didáticas que devem ser analisados pelos docentes e futuros professores, de modo a que estes possam tomar uma melhor perceção do que já foi tido como paradigma e o “porquê” da sua refutação, bem como poderem enquadrar-se nas exigências promulgadas hoje e construírem as suas próprias estratégias e práticas pedagógicas.

- Humanismo versus Sociedade do Conhecimento. O primeiro (“Homo sum: humani nil a me alienum puto”) vislumbrava uma educação romântica, vinculando a alteridade da Pessoa e destinguindo a pedagogia como o princípio do Ser. O segundo, alicerçado, sobretudo, na transmissão cultural e na interação social (o Eu e o Outro). Em pleno século XXI, este último, acaba por se nutrir da contemporânea “sociedade do conhecimento”, da sobrevalorização do poder económico, político, informativo e tecnológico (Parecer e Ser residem em ambiente conflituoso).

- Escola Tradicional versus Escola Nova. No século XVII o aluno é visto como um objecto a ser modelado, por um processo de transmissão de conhecimento depositário (numa fase tardia, apontada por Freire como Educação Bancária) que atribuía ao Professor o papel de sujeito activo e detentor primordial do conhecimento. Estamos, assim, defronte para a Escola Tradicional. Mais tarde, no século XIX há uma reformulação pedagógica, na qual o aluno afirma-se como sujeito que aprende e que descobre o saber pela orientação e estímulos dados pelo Professor, a denominada Escola Nova.

Mas, hoje, onde nos situamos? Qual a transformação?
“A criança é o ponto de partida, o centro, o fim…”
- in L’école et l’enfant, Dewey (1956)

            Prosseguindo caminho e trazendo todo um legado de transformações educacionais, mais ou menos profundas, o Ensino apresenta-se hoje como a conjugação entre a diversidade e a unidade. Uma estrutura que deve ser capaz de se adaptar à criança, num modelo activo e de trabalho de projecto (individual e de grupo, na presença de um orientador – o Professor).

            Assim, os elementos estruturais desta relação pedagógica assentam na multipliciadade, na inovação de directrizes, na educação crítica, no diálogo e num carácter alocêntrico (o Eu, o Outro e uma aceitação recíproca).

            Neste panorama, o Contrato Didáctico é delineado atendendo à heterogeneidade e defesa da liberdade, afirmando-se não só pela auto-estruturação ou auto-aprendizagem do aluno e do professor, bem como pela interestruturação (o Nós, enquanto terceira entidade capaz de convergir e de divergir opiniões, fomentando uma mútua evolução, no crescimento pessoal do Professor e do Aluno).

            No espelho acreditamos ver uma Educação Progressista.
            Para lá da imagem, reflectimos, enquanto agentes pedagógicos.

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