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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Direitos LGBT (ou: Sexismo, racismo, xenofobia e… homofobia)

por Lostio

Para o tema do texto de hoje, gostaria de reforçar a ideia de que eu creio que este assunto se insere em algo mais geral do que mera política: tem um interesse especial para mim, pois eu vejo-o com uma importância diretamente relacionada com direitos civis e discriminação.

A luta e o esforço exigidos por parte da comunidade LGBT para obter igualdade de direitos é algo que, a meu ver, cada vez faz menos sentido. Tal como o título sugere, estou completamente convencido de que, a dada altura, a homofobia que impede a implementação desta igualdade de direitos será vista sob o mesmo prisma de incredulidade com que hoje em dia se vê o sexismo e o racismo.

Para propósitos de rigor crítico, irei abordar as duas principais decisões legislativas inseridas nesta temática: o casamento homossexual e a adoção de filhos por casais homossexuais.

Ora, que possíveis argumentos temos contra o casamento homossexual? A maioria dos utilizados são o apelo à santidade do casamento, o declive escorregadio e a “não-naturalidade” da homossexualidade. Tudo argumentos sem bases consistentes ou sólidas, a meu ver. Nenhuma legislação ou constituição até agora diz que o casamento é algo para ser santificado, ou para celebrar a “naturalidade” do casal, tudo isso não passa de inoportunas romantizações. O casamento não é mais que uma instituição que fornece um conjunto de benefícios fiscais e civis ao casal. E, essencialmente, se casais heterossexuais têm direito a esses benefícios, não há razão pela qual um casal homossexual não os tenha. Não creio que uma igualdade de genitais entre os membros de um casal seja fator para invalidar uma união matrimonial entre duas pessoas, se esta é consensual.

O argumento do declive escorregadio é uma falácia usada pelos mais facilmente impressionados. Não é por permitirmos que pessoas do mesmo sexo se casem que, de repente, nos lembramos de permitir casamentos com animais, objetos inanimados e afins. O casamento continua a ser um compromisso entre duas pessoas, e não me parece que, dada a sua natureza, o suposto “declive escorregadio” consiga ir a um ponto chocantemente mais longe.

Quanto à adoção de filhos por casais homossexuais, os argumentos que a contestam geralmente vão mais para um patamar de que uma boa educação das crianças só se consegue com uma perspetiva feminina e masculina, ou que as crianças irão sofrer discriminação e bullying por terem pais homossexuais, ou mesmo casais homossexuais tenderão a influenciar as crianças a o serem (como se a homossexualidade fosse um terrível mal, a ser combatido).
Do mesmo modo, não atribuo qualquer tipo de validade lógica a estas justificações. Para começar, assumir à partida que um casal gay não consegue educar uma criança é puro preconceito, e um que é incorreto (a título de exemplo, vejam o referido vídeo do YouTube). Além dos casais heterossexuais que têm péssimas habilidades para criar filhos, há a notar que este tipo de questões já é supervisionado pelos serviços de proteção de crianças. A dupla perspetiva supostamente essencial para um crescimento saudável da criança torna-se logicamente incosistente com a existência de mães ou pais solteiros, viúvos e divorciados.


A famosa e apelativa explicação angustiante do “pensem nas criancinhas!”, que irão sofrer tanto bullying por terem pais gays, torna-se desprezável face à sua circularidade. Ora, que tipo de questões é que são troçadas por outras crianças? Aquelas que não são comuns, as invulgares e “estranhas”. Se esta adoção continuar a ser ilegal, nunca mais passará a ser algo comum e, consequentemente, nunca deixará de ser troçada. Além do mais, a lógica por detrás desta explicação é que os pais com características propícias a serem gozadas não podem ter filhos. As crianças conseguem ser bem cruéis – já se viram casos de crianças troçadas por terem pais pobres, por terem pais que se divorciaram, porque o pai foi despedido, etc. Vamos igualmente proibir todos eles de terem filhos, “para bem das crianças”? Então e as várias crianças em centros de adoção, que anseiam pelo dia em que possam pertencer a uma família?


 Toda a resistência e contestação que se mostra contra a legislação que recebe e aceita a homossexualidade é baseada em preconceitos, discriminações e puro repúdio pessoal contra este estilo de vida. De um ponto de vista objetivo, segundo o olho imparcial que se deseja da política, um casal homossexual é exatamente igual a um casal heterossexual e, consequentemente, deverão ter os mesmos direitos. A homossexualidade não é nenhuma praga, não deturpa os valores morais das pessoas, não corrompe a sociedade, é apenas uma orientação sexual e, acima de tudo, é algo perfeitamente normal, e o Governo deve naturalmente reconhecê-lo.

16 comentários:

  1. -Lostio uses logic.
    -Preconceived ideas loose.
    ahah foi isso que pensei quando li o que escreveste :)

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    1. A minha reformulação mental do que escreveste:

      Wild Lostio appeared.
      Lostio used Logic.
      It's super effective!
      Preconceived Ideas lost... IO!

      *self five*

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  2. Apenas uma coisa a dizer.

    Quando dizes que "A homossexualidade (...) não deturpa os valores morais das pessoas, não corrompe a sociedade(...)" há a acrescentar que isto não é bem assim. Tive a oportunidade de assistir à parada gay em Estocolmo, e resumindo, não consistia mais do que obscenidade. Figuras horríveis em praça pública que só um casal heterosexual doido da cabeça faria também. Isto não é natural nem normal. É ser estranho e extremista sem razão. Isto corrompe valores. Sem falar no stress da sociedade hoje em dia em ter parceiro do sexo oposto, que acaba por levar muita gente nesta onda de dúvida e incerteza para estas vias de pura obscenidade. Não me digas que o T em LGBT é uma coisa perfeitamente normal. Não é.

    Isto não vai contra a homossexualidade em geral. É só um ponto que achei que devia referir. Há que sempre ter em conta os dois lados da moeda.

    No entanto, concordo com o resto. Bom artigo. Keep the good work ;)

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    1. Caro Gonçalo,

      Antes de mais, gostaria de lhe agradecer pelo comentário, é sempre agradável receber algum feedback quanto aos nossos artigos.

      Quanto à mensagem exposta, confesso que discordo com o seu ponto de vista. O que estou a notar é que tende a caracterizar a obscenidade que testemunhou na parada gay como algo imoral, anormal e responsável pela corrupção de valores. Não creio que exista uma relação entre os dois. A meu ver, os valores morais de uma sociedade estão na capacidade de respeitar as diferenças, de fornecer liberdade individual sem comprometer as liberdades dos outros, de permitir a capacidade de expressão individual. A obscenidade e a "estranheza extremista" não entram na equação, a meu ver. São simplesmente maneiras de ser, talvez diferentes do que algumas ideias pré-estabelecidas definem como padrão, mas não incorretas ou deturpadoras da moralidade de uma sociedade. Quero com isto dizer que não vejo as pessoas que agem deste modo como delinquentes, ou censuráveis, pois, para todo o efeito, não estão a prejudicar nem a magoar ninguém.

      Além de que, mesmo se fôssemos ceder à caracterização imprópria do obsceno e do estranho como uma imoralidade, continua a não haver uma direta associação para com a homossexualidade. Não é a orientação sexual que define a obscenidade de uma pessoa, são coisas não relacionadas.

      Do mesmo modo, também devo admitir que não compreendo porque crê que transexuais, pura e simplesmente, não são algo normal. Na minha opinião, o ser humano e todos os pormenores intrínsecos à sua mentalidade, são algo de tal modo complexo e elaborado que qualquer caracterização como "normal" ou "padrão" estará inerentemente estigmatizada. Com a revolução sexual que se tem notado, cada vez mais se verifica que imensas pessoas não se identificam com a caracterização psicológica associada ao sexo com que nasceram. Apesar de não ser algo com que me identifique pessoalmente, admito tal como uma possibilidade viável, pois não sinto que seja o meu papel repudiar esta mentalidade apenas por não me identificar com ela.

      Porém, ao fim e ao cabo, a questão essencial que pretendia abordar era mesmo o tratamento que o Governo deverá adotar perante os membros desta comunidade, e não propriamente uma discussão sobre a sua suposta "naturalidade". Quanto a isso, folgo em ver que obtive a sua aprovação.

      Novamente, muito obrigado pelo seu comentário! ;) Convidamo-lo a continuar a comentar, neste ou outros artigos.

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    2. Gonçalo, por favor, "normal" não é sinónimo de "bom", nem "estranho" é sinónimo de "mau". Lembra-te disso quando tentares analisar uma coisa que não te é familiar.
      O facto de um comportamento não te parecer "normal" ou "moral" a ti não diz nada sobre ele, diz-te apenas algo que (achava eu) já todos sabemos: "normal", "moral" e "estranho" são conceitos subjetivos.

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  3. Caro Lostio,


    "(...)capacidade de respeitar liberdade individual sem comprometer as liberdades dos outros" - ´É isto realmente possível? Pela "lógica", não. Isso restringe as "liberdades individuais" possíveis. Isso por sua vez vai contra o conceito de liberdade.. É apenas um apelo ao bom senso de uma sociedade, que não se aceitem as pessoas que, por exemplo, são psicopatas. Assim, sinto-me em todo o direito de apelar ao bom senso que as pessoas não sejam obscenas.

    Ponho a questão: depende assim o que é imoral do grau da gravidade da psicose individual de cada um? Assim sendo, quem define o que se deve aceitar do que não se deve aceitar? Pela maioridade? Isto pode se estender à sua questão com as ideias pré-estabelecidas. Tem de haver um padrão algures. Quem marca o padrão? Qual o valor mais alto? Se eu acho que a obscenidade é algo mau para a sociedade, porque não posso eu marcar esse meu padrão, e pode o Lostio marcar o seu?

    Voltando ao exemplo em questão, qual o efeito que pode ter uma parada destas numa criança? (Sublinhando o facto de que a parada é altamente suportada pelo país/governo etc). Ver dois homens em praça pública às 15:00 da tarde a simularem relações sexuais num carro alegórico, deve ser perfeitamente natural, e é uma ideia pre concebida na minha cabeça que isto é mau?

    Não tenho provas, nem o Lostio tem provas, nem acredito que seja possível as ter, sobre uma correlação ou não entre homossexualidade e obscenidade. Achar que isso faz parte de ideias concebidas da minha parte, não é justo para comigo. Assumir tal pelo que vi, é logicamente errado da minha parte também (falácia da amostragem). Foi uma declaração do que vi até agora, sem influências de que a homossexualidade é obscena só por si. Apenas me tem parecido cada vez mais que uma é desculpa para a outra. Posso estar completamente errado.


    A revolução sexual de que fala, é outra amostragem, maior que a minha, mas igualmente falaciosa. As pessoas podem não se identificar com a caracterização psicológica associada ao sexo com que nasceram. Mas vamos apenas aceitar isso? Não nos vamos perguntar, espera, a natureza fez-nos de uma maneira, e isto aconteceu, porquê? Não nos vamos perguntar, onde está o que é normal? É aceitar tudo como normal, ou não definir sequer normalidade, e deixar-mo-nos levar pelo senso comum e a aceitação, traga isso as consequências que trouxer para o futuro da sociedade?

    Não lhe quero tomar mais tempo de antena num assunto que não era o principal!

    Acabo assim os meus maus argumentos, aceitando os seus e a minha completa derrota na discussão corrente. No entanto, espero que entenda o que tento transmitir, seja irracional ou ilógico, porque continua a ser, ao fim e ao cabo, discussão sobre natureza humana.

    Melhores Cumprimentos (e continuação de um bom trabalho!)

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  4. Caro Gonçalo,

    Antes de mais, deixe-me reforçar o meu agradecimento pela sua participação nesta discussão. :) É precisamente com a expectativa de obter algum feedback e estabelecer uma troca de ideias que lançamos os nossos artigos.

    Sim, evidentemente que, ao definir uma liberdade individual que não comprometa as liberdades de outrem, estamos a restringir o conjunto de possibilidades que cada indivíduo tem para praticar. Não pretendia negar isto, trata-se de uma limitação inerente à noção de viver em sociedade. No entanto, o ponto que pretendia reforçar é que a obscenidade não constitui um elemento que restrinja liberdades. Por outro lado, a psicopatia que referiu já leva, pois pessoas que assassinam ou torturam outras pessoas estão naturalmente a pôr em risco as suas liberdades de vida, livre arbítrio, etc. Daí que a psicopatia seja moralmente e legalmente condenável e, pelo menos na minha opinião pessoal, a obscenidade não o seja.

    Destaco ainda que tudo o que refiro nesta discussão não é para ser interpretado como uma imposição ou qualquer tipo de sugestibilidade de superioridade, trata-se apenas da minha opinião pessoal, tão válida quanto a sua ou a de qualquer outra pessoa.

    Aquilo que deverá ser aceite ou não, de um ponto de vista político-social, será, a meu ver, o que obtiver maior consenso por parte da sociedade geral, visto que é a ela que este tipo de questões irá afetar. No entanto, se forem assuntos cuja decisão não influencie qualquer entidade a não ser aquelas diretamente envolvidas na decisão (que é o caso, por exemplo, do casamento homossexual), creio que a opinião a considerar será apenas a destas entidades.

    Quanto ao efeito que a obscenidade poderá ter sobre as mentes facilmente impressionáveis das crianças, já é uma divagação notória ao assunto em mão. No entanto, que consequências efetivas o perturbam? A imitação por parte das crianças destes atos? Esta apenas será vista como algo de "mau" se partimos da premissa inicial que a obscenidade por si é algo de "mau", tornando o argumento circular.

    A correlação entre a homossexualidade e a obscenidade é algo que não se pode definir como auto-evidente, ou como uma associação naturalmente existente, visto que os conceitos têm definições distintas. A homossexualidade é uma preferência sexual perante elementos do mesmo sexo, e obscenidade é a propensão para a devassidão sexual. Assim sendo, dado a inexistência de uma correlação a priori, o ónus da prova reside sobre quem afirma esta propriedade, e não sobre quem a nega.

    A revolução sexual que referi pretende apenas retirar um pouco do estigma associado à palavra "normal" ou "padrão". Quero, com isto, dizer que já não nos podemos cingir a um standard, ou a um modelo-base do cidadão "normal", devido à imensidão de características que definem cada um como pessoa. A mais louvável atitude a tomar será realmente a de "aceitar tudo como normal, não definindo sequer normalidade", como enuncia. Não é por as pessoas não se encaixarem num retrato de normalidade, que não merecem ser aceites tal como são. A única exceção que poderia indicar a esta regra, seria precisamente as pessoas que evidenciam ser perigosas por limitarem as liberdades individuais de outras pessoas, mas os transsexuais evidentemente não são um caso destes.

    Novamente, um muito obrigado pelo seu comentário! ;) Espero que continue a participar, neste ou outros artigos.

    Melhores cumprimentos

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  5. Gostei do artigo e do debate entre o Gonçalo e o Lostio, em que ambos têm razões. O Gonçalo tem razão quando exemplifica com as paradas "gay" que propiciam atos provocatórios. No meu entender em nada contribuem para combater os esteriótipos relativamente às diferenças sexuais. Do mesmo modo que a discriminação racial não lucrou nada com o "racismo ao contrário", ou seja, um comportamento discriminatório de quem se sente facilmente melindrado por ter mais pigmentação na pele e facilmente agride quem tem menos...
    Como diz o Lostio, os "padrões" ou conceitos de normalidade vão evoluindo naturalmente, sem precisarem de "compreensão" e, muito menos, "tolerância". Tolerância significa aceitar com bonomia o que incomoda. Tolera-se a dor até certo limiar.
    As atitudes provocatórias não ajudam nada à aceitação natural de situações que no futuro nem deverão fazer parte da "agenda" de discussão, como o da educação de uma criança.

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    1. Caro Luís,

      Antes de mais, um obrigado pelo seu comentário, que nunca creio ser demasiado referir. ;)

      Sim, efetivamente, os comentários do Gonçalo fazem-me sugerir que as paradas gay têm o infeliz inconveniente de propagarem associações automáticas com atos provocatórios, obscenos ou pura e simplesmente arrojados. Isto realmente retira o foco do aspeto principal a reforçar, que seria o de que a orientação sexual não tem quaisquer razões para ser vítima de algum tratamento discriminatório. No entanto, creio que o que foi referido não invalida este aspeto, pois a realização destas paradas, mesmo que "incomodativa" para algumas pessoas, não traz quaisquer dados para caraterizar a inteira comunidade LGBT como não-merecedora de uma igualdade de direitos.

      A educação de uma criança e o direito à união matrimonial são, então, aspetos que efetivamente não têm qualquer inserção contextual numa discussão sobre a "naturalidade" da homossexualidade. Compreensão, tolerância e aceitação são mesmo as palavras-chave, no que toca a uma população global cujos traços caraterísticos estão em eterna evolução.

      Continue a comentar sempre que possível, que participações e trocas de ideias são sempre bem-vindas!

      Abraço

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  6. Vou falar por experiência própria. Conheço pessoalmente pessoas muito diferentes dentro da "comunidade homossexual" e tornou-se muito evidente que nada têm de diferente da "comunidade heterossexual".
    Existem sentimentos de superioridade e inferioridade, violência doméstica, infidelidade, violações, cristãos, muçulmanos, testemunhas de Jeová (verdade!), ateus etc etc etc.

    Existem pessoas dramáticas, quase histéricas, que gostam de chocar, mas também existem pessoas que gostam de ficar em casa com o seu amor, a ver um filme e sem fazer escândalos. Que juram ficar juntos a vida toda e ficam. Que criam crianças saudáveis não só fisicamente mas psicologicamente.

    Isto ainda faz lembrar muito quando se faziam manifestações pelos direitos das mulheres ou dos negros, que em geral chocavam muito, eram extremistas e radicais, mas eram estes que conseguiam a atenção à sua causa, como mulheres a queimarem os soutiens em protesto ou casais "inter-raciais" a beijarem-se em frente àqueles que diziam que era errado.

    Enfim, com isto não quero dizer que aprovo as ditas "obscenidades", ainda que pessoalmente não ache que o sexo deva ser um tabu.

    Para mim é anti-natura maltratar ou oprimir outro ser humano, assim sendo, porque há-de uma pessoa viver mal consigo mesma? Porque não pode ser ela mesma, ainda que choque e seja altamente dramática, porque hão-de viver apenas os que nunca fazem nada de extravagante? É-se preso por ter cão e por não ter.
    Viver com ódio é como viver com um cancro que vai correndo devagarinho. Viver com ódio de nós mesmos...bem..por alguma razão existe tanto suicídio.

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    1. Ora cá nos encontramos novamente, Lilrien! x)

      Eu conheço apenas uma parcela razoável de pessoas da comunidade LGBT, mas partilho do teu ponto de vista. Para todos os efeitos e propósitos, estas pessoas em NADA se distinguem das pessoas heterossexuais. A sua orientação sexual raramente chega a ser um pormenor relevante nas atividades típicas do dia-a-dia. Muitas vezes até, só cheguei a descobrir muito mais tarde que essas pessoas tinham uma orientação sexual diferente. Tal só evidencia a irrelevância desta característica para efeitos práticos.

      Caracterizar uma pessoa só pela orientação sexual é puramente preconceituoso, pois esta característica não traz qualquer influência direta sobre outros aspetos da sua personalidade. Como referiste, existem pessoas homossexuais na mesma diversidade de estilos, formas e feitios em que existem pessoas heterossexuais. Homossexuais histéricos e dramáticos, como aqueles que o Gonçalo presenciou na parada gay de Estocolmo, e homossexuais calmos e caseiros. Na verdade, casais gays não sensacionalistas não são qualquer novidade no mundo dos tabloides. Temos a Ellen DeGeneres e a Portia de Rossi, o Neil Patrick Harris e o David Burtka (que têm filhos)...

      Acho a tua associação às manifestações pelos direitos das mulheres e dos negros muito apropriada à mensagem que queria referir: A homofobia é, essencialmente, o racismo e sexismo do século XXI. Com o evoluir dos tempos, estou convencido de que ela será vista da mesma maneira, pois os padrões que se observam são muito semelhantes, e um claro exemplo disso são as típicas manifestações feitas propositadamente para chamar atenção ao facto de que merecem igualdade de direitos, e para impor que este assunto seja tratado o mais rapidamente possível.

      Paradas gay são o equivalente moderno das mulheres a queimar os soutiens e das manifestações de sufragistas, e as obscenidades em figura pública são o correspondente aos beijos entre casais inter-raciais. Sensacionalistas, provocadores, mas claramente intencionados para dirigir as atenções aos seus direitos.

      Tal como tu, também não creio que o sexo deva ser tabu, mas estamos a divagar...

      De qualquer modo, muito obrigado pela participação! Traz-nos mais comentários sempre que achares propício, que serão sempre bem-vindos! :)

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  7. "Para mim é anti-natura maltratar ou oprimir outro ser humano, assim sendo, porque há-de uma pessoa viver mal consigo mesma? Porque não pode ser ela mesma, ainda que choque e seja altamente dramática, porque hão-de viver apenas os que nunca fazem nada de extravagante? É-se preso por ter cão e por não ter."

    1) Força aos psicopatas/sádicos/piromaníacos
    2) Força ao homossexualismo em sociedades onde a taxa de natalidade é cada vez mais baixa.
    3) Uma pessoa altamente dramática entra em directo confronto com o meu sistema nervoso, invadindo a minha liberdade pessoa, enchendo-me de ódio.
    4) Se acha bem a obscenidade, é consigo. Eu acho mal. Porque há de ser a minha opinião oprimida ou mal tratada e eu ser visto como burro por não aceitar obscenidades? Dentro do vosso circulo culto de tanta aceitação, sinto-me mal comigo mesmo.






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    1. Vou-me meter ao barulho pois acho esta conversa interessante. Concordo com o facto de um homossexual ser uma pessoa normal e que deve ter o direito de agir em conformidade com aquilo que gosta. Simplesmente acho que não tenho que meter o nariz na vida privada dele, é tudo.

      Agora quanto ao facto de se ver um grande grupo deles a fazerem os gestos sexuais em praça pública, autoproclamando-se de orgulhosos, beijando-se uns aos outros, vestindo-se do sexo oposto (se gostam do mesmo sexo porque se vestem do oposto?) e fazendo questão de mostrar que o que mais querem é dizer "ahah, olhem para mim", querem que eu ou outros olhem e deixem estar?

      Têm toda a razão em dizer que a homossexualidade e a obscenidade não estão relacionadas, mas tais actos são ou não obscenos?

      Se eu visse na rua um grande grupo de pessoas bêbadas nuas e a "comerem-se" uns aos outros é por si só obsceno.

      E se agora ganhasse poder um grupo de pessoas que acha que praticar felação é completamente normal. Também têm direito não é? E não deixa de ser obsceno.

      Na verdade a sociedade evolui aos poucos. Os nossos avós dizem que no passado ai de quem desse um beijinho na rua. Algo que hoje é completamente normal. Mas como é que tal se normalizou? Começaram os casais todos aos beijinhos na rua em frente a toda a gente? Ou foi gradual, através do cinema quiçá?

      Se uma pessoa vive mal com ela mesma, como a Lilrien disse não será melhor perguntar-se a si ou a outros o que despoletou isso? Resolver a origem do problema para que a vida seja estabilizada e não haja a necessidade de fazer perversidades? Notem que aqui já não estou a falar da homossexualidade, embora também ache que aceitar sem mais nem menos também é pouco razoável.

      Vejam o exemplo da Suécia. Tudo é permitido, trata-se duma sociedade dita altamente desenvolvida. Vê-se gente tatuada da cabeça aos pés e com demonstrações visuais ainda mais extravagantes. Não estou a negar o seu valor como pessoa. Agora a maioria é altamente introvertida e a felicidade é pouca. Ah, sim e a taxa de suicídio é elevada. Não seria melhor analisar o que levou a pessoa a sentir-se assim e tratar o problema de raíz? Se a pessoa se sente MESMO feliz com essas manifestações, então sim, aceitar.

      Para terminar venho apenas deixar uma nota. A sociedade precisa de regras, ordem. Em toda a história, foram as sociedades mais ordenadas e coordenadas que prevaleceram. Não mostrem excepções pois não as há. É verdade que as mudanças de regime sempre foram turbulentas, mas isso foi porque houve uma mudança brusca de regras (e também violência, mas não desejo seguir por aí).

      Desejo ver a resposta a isto.

      Over and out

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    2. Reli o meu "post" e corrijo uma coisa para depois acrescentar outras duas:


      "E se agora ganhasse poder um grupo de pessoas que acha que praticar felação é completamente normal." - referia-me a praticar tais actos em público à frente de todos.

      Para terminar venho só dizer que a sociedade dita "ocidental" está em grande crise financeira, económica e social.

      Estamos a discutir o problema social. E quanto à homossexualidade, acho um assunto completamente irrelevante para o mundo actual e na realidade uma perda de tempo. São pessoas que vivem duma forma não tão habitual. "ah e tal ainda são discriminados". Peço desculpa mas todos somos discriminados alguma vez na vida, se não é por sermos homossexuais, é por sermos altos de mais, ou burros, ou gordos, ou parvos às vezes, ou por termos um sinal feio e por aí adiante. Mas acima de tudo volto a sublinhar, eles têm a sua vida privada e não há que se meter nela. Quem agir contra a lei contra um homossexual sofrerá a pena igual à que receberia se assim agisse contra um heterossexual. Problema resolvido.

      E por favor, é lógico que se se estimular ou permitir o "estranho" duma sociedade é a solução (isto já não tem a ver com a homossexualidade), não estamos assim a discriminar aqueles que de facto se mantêm em linha com a sociedade? Que irão eles pensar? São correctos para quê?

      Para terminar aponto apenas duas coisas:

      1) Ao longo da história nunca se agradou a todos. Nunca. Uns iam sofrendo mais que outros. E assim se foi evoluindo. Talvez um dia isso mude. Porém com os recursos actuais e a actual maneira de ser humana, isso ainda está aquém.

      2) Esta discussão é infinita, tratam-se apenas de opiniões e este é o meu ponto de vista. Pode mudar ou não embora duvide que mude.

      Over and out again.

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    3. Caro Gonçalo,

      Continuando então a nossa estimulante discussão, tentarei abordar cada um dos tópicos que levantou, dando-lhe a minha opinião sobre o assunto:

      1) Tal como referi previamente, creio que o repúdio perante a ideia de oprimir ou maltratar outro ser humano está inerentemente ligado à aceitação e ao respeito pela lei-chave da sociedade, que é a de permitir liberdades individuais, sem comprometer as liberdades dos outros, nomeadamente as liberdades à vida e ao livre arbítrio, e a liberdade de expressão pessoal. Naturalmente, piromaníacos, sádicos e psicopatas não se encaixam neste conjunto. O mesmo não sucede com elementos da comunidade LGBT.

      2) A associação entre a homossexualidade e um decremento na taxa de natalidade é uma lógica que me parece falhada, dado os notáveis progresso que se têm desenvolvido no que toca a barrigas de aluguer, bancos de esperma e inseminação artificial. E, claro, o aumento do interesse por parte de casais homossexuais em terem filhos, daí que o assunto da adoção de crianças por parte destes se tenha tornado tema de discussão. Além de que essa mesma lógica também sugere que casais estéreis ou que não desejam filhos também deveriam ser evitados, pela mesma linha de raciocínio.

      3) Eu não creio que uma perturbação do sistema nervoso pessoal possa ser viavelmente interpretada como uma violação de liberdade individual. Isto implicaria que pessoas irritantes, obnóxias, arrogantes ou simplesmente desagradáveis seriam igualmente vistas como elementos censuráveis da sociedade. Além de que a geração de sentimentos de ódio e repúdio por uma suposta perturbação nervosa não coloca em ameaça nenhuma das liberdades essenciais do indivíduo, tais como as de arbítrio, escolha e expressão.

      4) Não pretendo dar a entender, tal como mencionei antes, que menosprezo ou subvalorizo a sua opinião. Trata-se apenas de um ponto de vista, tão válido quanto o meu ou o de outra pessoa. O que pretendo reforçar é que a sua opinião vê, sob um prisma negativo, uma característica e aspeto comportamental - a obscenidade e atitude extravagante - que, na minha opinião (e, aparentemente, na da Lilrien), não traz nenhum mal à sociedade, visto que não coloca em causa nenhuma liberdade individual essencial, nem causa danos a ninguém, e ninguém sai magoado ou prejudicado por ela. Pode chocar, repudiar, impressionar ou mesmo causar estimulações perturbadoras no sistema nervoso das pessoas, mas ninguém sai magoado por isto. Daí que a aceitação, respeito, recetividade e inclusão no panorama básico dos direitos civis seja a melhor e mais louvável ação a tomar. Novamente, reforço: na minha opinião.

      Felicito-lhe pela contínua participação e ativo interesse em manter viva a discussão, e incentivo-lhe a continuar, tanto quanto queira, neste ou em outros artigos! :)

      Melhores cumprimentos

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  8. Dei uma vista d'olhos de 2 minutos sobre o texto e os comentários e arrisco-me a dizer que não há grande novidade (ou nenhuma) por parte dos moralismo. Deixo então um pequeno contributo... porque realmente isto de em pleno sec XXI ainda ter que argumentar sobre a liberdade individual e colectiva contra moralismos e culturas impostas (a que chamam natural) tem muito que se lhe diga...

    1. Sobre as orientações sexuais identidades de gênero (casamentos e afins):
    O que é NORMAL e NATURAL é não rotular pessoas nem impôr papeis às pessoas consoante as normas patriarcais, machistas e capitalistas. Natural e normal é as pessoas viveram e aceitarem a sua diversidade livremente sem repressões, SEM haver quem ache que por alguém numa parada gay ser fazer o que lhe dá na teia, ser provocatório. Se calhar as paradas gays não são próprias puritanos nem ninguém que consiga viver fora das normas e papeis sociais impostos (uma espécie de produção de gente em sistema fordista).

    Sobre a adoção...
    Ora bem, as crianças vão sofrer bullying in provocações e maus tratos. Sim, é VERDADE e concordo. Mas onde está o problema? O problema está nos educadores que Não educam as suas crianças a respeitar a diversidade e a liberdade. O problema está na educação tradicional, católica e conservadora. O problema é, portanto, não as famílias homoparentais que reclamam o seu direito a constituir família, mas sim nas família HETERO-NORMATIVAS (diferente de heterossexuais, atenção) que educam as suas crianças de acordo com valores repressores e opressores. Portanto, o mal não é ser filho/a de um casal homoparental mas de um casal que não sabe Educação em prol do respeito.

    Se calhar está na hora de criar um movimento social para ajudar e incentivar as famílias tradicionais a educarem em prol de uma sociedade mais livre, justa e igualitária.

    Um abraço e boas reflexões!

    C.

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