por Isabel Chalupa
Aproveitando a deixa do novo filme de Paul Thomas Anderson (um dos meus realizadores favoritos, por sinal), The Master, que se foca alegadamente no tema da Cientologia, venho hoje falar-vos de polémica no Cinema. Todos os filmes que procuram tocar assuntos sensíveis enfrentam uma grande dúvida: serão feitos como um afirmar e defender dos ideais em que os seus realizadores acreditam ou como simples movimento de mercado? Grito de alerta ou golpe propagandístico? Arte ou entretenimento?
Aproveitando a deixa do novo filme de Paul Thomas Anderson (um dos meus realizadores favoritos, por sinal), The Master, que se foca alegadamente no tema da Cientologia, venho hoje falar-vos de polémica no Cinema. Todos os filmes que procuram tocar assuntos sensíveis enfrentam uma grande dúvida: serão feitos como um afirmar e defender dos ideais em que os seus realizadores acreditam ou como simples movimento de mercado? Grito de alerta ou golpe propagandístico? Arte ou entretenimento?
De facto, não só a obra referida, como
muitas outras caminham sobre esta ténue linha que distingue os filmes que
pretendem passar uma mensagem daqueles que simplesmente procuram atrair
espectadores às salas com uma premissa sumarenta. Títulos como A Rainha, W., Frost/Nixon e o
vindouro Diana pegam em assuntos
delicados e discursam sobre os mesmos sem quaisquer pruridos ou medo da crítica
sensacionalista. Embora os filmes enunciados sejam obras de grande nível, nem
todos os exemplos no mundo do Cinema podem assim ser considerados. Pegar em
assuntos políticos está na moda, resta perceber se para criticar ou fazer
dinheiro...
Porém, compreenda-se que por vezes a
publicidade e a imprensa pegam num filme e transformam-no em algo completamente
diferente. Pegando especificamente em The
Master, PTA veio afirmar publicamente que não é sobre a Cientologia, tendo
apenas pegado no exemplo da ceita/religião em questão por ser um tema tão
badalado nos dias de hoje. De facto, as parecenças da personagem de Philip
Seymour Hoffman com L. Ron Hubbard, o criador da Cientologia, são assinaláveis,
tal como as situações em que o filme se movimenta. Contudo, como o realizador
já referiu por diversas vezes, este é um conto sobre dois homens, um que gosta
de orientar e outro com sentimentos antitéticos sobre ser orientado, que se
cruzam e constroem uma relação peculiar. Alguém entrevê nesta descrição uma
reflexão sobre a Cientologia e as suas mentiras e controvérsias tão faladas?
Não obstante, a imprensa e a própria
máquina de promoção de The Master
insistem na mesma tecla: guerra aberta contra a Cientologia por todo o mal que
esta provoca. No entanto, será de facto pelos males da ceita/religião que os media chovem no molhado ou porque anunciar
um tema tão controverso é fonte certa de dinheiro? P. T. Anderson é um
realizador distinto, respeitável e com as suas próprias ideias estéticas,
morais e comportamentais. Não é um Michael Bay, que realiza filmes de
máquinas-veículos falantes só porque os mesmos dão origem a cheques com muitos
zeros. Não pretendo julgar tal opção – pelo contrário, admiro quando feito às
claras, não quando (como no caso do mecanismo de marketing da obra de PTA) disfarçam um filme de algo só para atrair
a clientela. The Master é decerto uma
película singular e a ideia pré-definida que a comunicação social tem criado à
sua volta poderá prejudicar o entendimento do filme como reflexão sobre a
condição humana e as relações interpessoais.
Concluindo, é bem sabido que hoje em dia
temas polémicos são fonte certa de papel verde. Todavia, tal controvérsia é
muitas vezes originada pelos media em
si, que mascaram um filme de outro com o mero propósito de atrair o espectador
comum às salas. Ainda assim, isto não invalida que uma obra produzida e
promovida nesses moldes seja de qualidade: casos como os acima referidos foram
apresentados como ensaios sobre temas delicados e nem assim deixaram de ser
títulos de alto quilate. Tudo depende do que repousa sob todo aquele mecanismo
propagandístico: se o que encontramos é arte, não devemos hesitar em dar uma
espreitadela. Até porque podemos estar perante uma verdadeira obra-prima.
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