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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Pais Demitidos

por Rute Melo

Infelizmente, nos dias de hoje, nota-se uma demissão por parte dos pais do seu papel de educadores.
Felizmente, esta situação não atinge a generalidade das pessoas, apenas algumas famílias da nossa sociedade atual. Contudo, este número tem vindo a aumentar a olhos vistos. Desde que iniciei a minha vida profissional, e não tem assim muitos anos, até hoje, esta demissão dos pais do seu papel de educadores está cada vez mais acentuada. Cada vez mais, os pais encarregam os professores de educarem os seus filhos, pois afinal “é para isso que são pagos!”
No meu caso, deparo-me com esta situação diariamente e o mais impressionante, é que acontece com as famílias que têm mais disponibilidade para os seus filhos. No meio onde trabalho, tal situação acontece nos lares onde a mãe está todo o dia em casa, ou até mesmo ambos os pais. A professora é que tem de ensinar, não deve mandar trabalhos para casa, e se o fizer estes devem ser resolvidos e corrigidos no ATL. Quanto menos responsabilidade no processo de ensino-aprendizagem dos seus filhos, melhor!
Nós, professores, temos o dever de instruir, educar, transmitir valores e servir de exemplo às nossas crianças. Ensinamos regras de convivência social, regras de higiene, regras necessárias no dia-a-dia para mantermos a saúde do nosso corpo. Ensinamos a falar bem, desenvolvemos o espírito crítico, a criatividade e a autonomia de cada um.
Muitas vezes aturamos as suas birras, teimosias e malcriações e com muita calma, através do diálogo e de exemplos práticos do dia-a-dia, tentamos explicar-lhes que não podem ter esse tipo de comportamentos e o porquê. Ensinamos que existem sempre dois caminhos, o mais correto e o menos correto, ajudamos a tomar decisões e, consequentemente, a desenvolver o sentido de responsabilidade.
E agora pergunto, onde estão estes pais “demitidos” da sua função de educadores? Qual o seu papel na educação dos filhos?
E o mais lamentável é, quando nós, professores, ensinamos aquilo que é considerado o correto pela sociedade onde estamos inseridos, e os pais vêm questionar-nos e contradizer-nos na frente dos filhos.
Felizmente, sempre há pais que arranjam tempo para se sentarem com os seus filhos. Apesar de terem dias complicados no trabalho, de terem as tarefas domésticas para realizar, de chegarem tarde a casa e ser tudo a correr, têm sempre um tempinho para aqueles que mais amam. Para lhes dar atenção, amor, saber como correu o seu dia e mesmo para lhes transmitir valores essenciais, que parecem ter ficado esquecidos na bruma da memória da nossa sociedade.
Os pais têm de tomar consciência de que são o alicerce fundamental da educação dos seus filhos. Por muito que os professores se esforcem e dediquem à educação das crianças, sem a cooperação dos pais dificilmente conseguiremos formar cidadãos nobres, cultos e com valores enraizados. Sem esta interacção escola/família fica um buraco por preencher na educação daqueles que serão os homens de amanhã.
É preciso não esquecer que “Uma criança educada apenas na escola, é uma criança sem educação” (Jorge Sanataya).

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