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sábado, 6 de outubro de 2012

Não estou no médico. Estou online.

por Filipa Bacalhau Lima

O ser humano é constituído por 22 pares de autossomas e 2 cromossomas sexuais, sendo que são esses pedaços de cromatina, tão pequenos, que nos definem como seres humanos. Contudo, a variabilidade humana não depende só dos genes, mas também da interação entre as alterações genéticas, da capacidade de adaptação ao meio e da seleção decorrente de doenças. 
   

Hoje em dia, é cada vez maior a curiosidade sobre a identidade genética, assim como os padrões de hereditariedade, e várias são as empresas que vendem na internet testes “milagrosos” que podem responder às perguntas, que já passaram pela cabeça de muitos:

“Você está grávida? Assegure-se que o seu filho nascerá geneticamente saudável”

“Conheça a sua predisposição para sofrer de enfartes, Alzheimer, Parkinson ou outras doenças hereditárias”

“Conheça os principais motivos pelos quais não fica grávida”

“Você é portador(a) de alguma doença genética e quer ter filhos geneticamente saudáveis?”

Todas as respostas a estas perguntas, e muitas outras, são “oferecidas” na internet bastando para isso fazer uma recolha de ADN, que pode ser feita de várias formas muito simples, como passar uma cotonete na boca, utilizar unhas cortadas, cabelos, pontas de cigarro, pastilhas elásticas, escovas de dente, entre muitos outros. Depois, basta enviar as amostras juntamente com uns inquéritos preenchidos, proceder ao pagamento (o site “labgenetics.com”, por exemplo, vende testes de paternidade por um preço entre 295 e 595 euros) e esperar que nos seja comunicado o resultado. Pagando mais, até se poderá usar a informação para fins judiciais.

O problema poem-se quando a curiosidade leva alguém a descobrir que pode vir a ter um cancro fatal e aí o sofrimento será antecipado pelo conhecimento de que a vida será breve, que os familiares e amigos ficarão desamparados ou que a sua própria qualidade de vida irá diminuir drasticamente de ano para ano. Será que vale a pena? Será que vale a pena saber de forma tão segura como será o amanhã, como será o fim? As opiniões certamente divergem a este respeito, daí que cada um tenha a liberdade de se aventurar ou não por estes caminhos genéticos. Também os testes de paternidade, feitos pelos motivos errados, na internet, podem trazer consequências irreversíveis na vida de uma ou mais pessoas, sendo que quando se trata de uma criança menor de idade, deve-se ter em conta o bem-estar da criança, acima de tudo, e não usar estes testes de forma leviana.

Ultrapassando a área da genética, muitos são os sites que “vendem saúde” ou formas de tratamento. Após uma pequena pesquisa pode-se encontrar um pouco de tudo. A nova moda são os sites que vendem consultas online. O site “NHS Direct” (http://www.nhsdirect.nhs.uk/About/UsingNHSDirectOnlineServices), por exemplo, é um site criado no Reino Unido, onde existe uma base de dados com várias doenças, sintomas, esquemas interativos onde se pode apontar a parte do corpo lesada (como se pode ver na figura abaixo), o que facilita o acesso até para os mais leigos em informática, existindo também uma linha de apoio 24h para quem não ficar completamente esclarecido. 




Muito semelhante a este existe também o site “Web Health Centre” (http://www.webhealthcentre.com/), que acrescenta ainda tópicos como desporto, nutrição, imunização, cálculos de fertilidade, massa corporal, apoio espiritual e medicinas alternativas. Por sua vez, no site “Just answer.®Doctors” (http://www.justanswer.com/sip/Health/General%20Medical?r=ppc|ga|1|Rest+of+World|Health&JPKW=medical&JPDC=C&JPST=www.makeuseof.com&JPAD=11021512683&JPMT=&JPNW=d&JPAF=txt&JPCD=20120328&JPRC=1&JPOP=Colin_AssistToAnswer_Trans&gclid=COLL4PKf07ECFcYmtAodfAYAwg), pode-se fazer qualquer tipo de pergunta, escolhendo o médico especialista online que queremos que responda e mediante pagamento obtemos a resposta. Tudo isto com uns simples cliques em frente ao computador.

Este tipo de sites facilita o acesso à saúde, de uma forma rápida, e este tipo de práticas já se torna bastante frequente fora de Portugal. Mas, sendo a prática de medicina algo tão complexo e que deve ter em conta não só os sintomas físicos de uma determinada patologia, como também todos os sintomas psicológicos e a envolvência social do individuo, será acertado “oferecer” diagnósticos, via internet, sem sequer ter sido feito um exame objetivo? E de que forma são todos os sites credíveis, de forma a confiarmos neles a nossa saúde? E se nos for feito um mau diagnóstico e isso trouxer consequências graves? Não será o uso destes sites apenas uma representação do comodismo e da preferência pela facilidade? Até pode ser importante que as pessoas acedam a sites para tirarem dúvidas que tenham, dúvidas simples. Mas, e se a pessoa têm realmente um problema grave e limitam-se a recorrer à internet, em vez de ir a uma consulta?

Muitos são os prós e os contras que poderemos encontrar a este respeito, por isso, deixo-vos a todos a pensar. Testes genéticos e consultas via internet evolução ou preocupação?

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