Durante
a segunda quinzena do mês de Setembro decorreu o Queer Lisboa – Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa.
Já na sua 16ª edição, este festival tem contado com uma seleção alargada de
filmes. O cinema queer tem vindo a ganhar cada vez mais público, mesmo fora da
comunidade LGBT e, como tal, a edição deste ano trouxe às salas do Cinema São
Jorge cerca de 7500 espectadores.
Dos 91
filmes do cartaz, entre curtas e longas-metragens, de ficção e documental, escolhi
duas longas de ficção para ver na edição deste ano do festival: Weekend (Andrew Haigh, 2011) e Keep the Lights On (Ira Sachs, 2012).
Não foi
por acaso que o filme inglês Weekend foi o escolhido para abertura do Festival: foi um dos filmes de
temática gay mais premiado e
aplaudido do ano.
O enredo do filme é relativamente simples:
dois homens conhecem-se uma noite num bar e passam um fim-de-semana juntos. Mais
do que a história de engate aparentemente banal, é nos dois protagonistas e nas
conversas entre eles que está o interesse do filme. Russell (Tom Cullen), menos
aberto sobre a sua orientação sexual, vê-se confrontado com uma visão diferente
do mundo por Glen (Chris New). Glen não entende o porquê da vergonha em ser-se
homossexual e em falar-se abertamente sobre isso, da mesma forma que os
heterossexuais o fazem, despreocupadamente. Por outro lado, Russell não entende
a recusa de Glen em procurar uma relação séria com alguém. Ainda assim procuram
passar o pouco tempo que tem - um fim-de-semana, juntos, mesmo sabendo que não
se voltarão a ver.
Mesmo
não tendo um “final feliz”, é um filme bonito, com o qual facilmente qualquer
pessoa se pode identificar; fala sobre as diferentes expectativas que cada um tem
numa relação, sobre a necessidade de ter alguém e a busca pela aprovação e
aceitação.
Bem diferente de Weekend,
o filme Keep The Lights On foi vencedor do Prémio Para Melhor Longa
Metragem no Queer Lisboa e ainda do Prémio para Melhor Actor para Thure
Lindhart. Foi, aliás, este ator um dos motivos que me levou a ver este filme –
já o havia visto na edição deste ano do Festival Indie Lisboa, no filme alemão Formentera (Ann-Kristin Reyels,
2012).
Este filme fala também da história de um casal mas, desta
vez, não num fim-de-semana, mas sim no período de uma década. Erik (Thure
Lindhart) e Paul (Zachary Booth) conhecem-se através de uma linha erótica e,
depois de alguns encontros, começam uma relação que irá durar vários anos.
Desde o princípio que Erik está a par do hábito de consumo de drogas de Paul,
“o seu pequeno segredo”, que se agrava ao longo do tempo. Cruamente real, o
filme vai mostrando de forma explícita os viciosos ciclos de euforia e
depressão das dependências de Paul – de crack
e de Erik - e as suas reabilitações e recaídas.
Não é um filme fácil nem é propriamente um filme
“bonito”. No entanto, é impossível não pensar nele ao sair da sala de cinema. Sem
dúvida, grande destaque para a belíssima interpretação de Thure Lindhart e
ainda para a banda sonora (que “não é mero papel de parede”).
Quase sempre afastado das salas de cinema e do sucesso
comercial, o cinema queer tem-nos
mostrado boas películas nos últimos anos. Estes dois filmes são bons exemplos
disso. Tenho esperança que no futuro se vejam mais destes filmes nas salas de
cinema, que comecem a aparecer mais personagens LGBT nas grandes e pequenas
produções sem que, para isso, seja necessária a existência de uma “categoria”
especial para os classificar e publicitar.
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