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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Festival Queer de Cinema em Lisboa


por Inês D.

Durante a segunda quinzena do mês de Setembro decorreu o Queer Lisboa  – Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. Já na sua 16ª edição, este festival tem contado com uma seleção alargada de filmes. O cinema queer tem vindo a ganhar cada vez mais público, mesmo fora da comunidade LGBT e, como tal, a edição deste ano trouxe às salas do Cinema São Jorge cerca de 7500 espectadores.
Dos 91 filmes do cartaz, entre curtas e longas-metragens, de ficção e documental, escolhi duas longas de ficção para ver na edição deste ano do festival: Weekend (Andrew Haigh, 2011) e Keep the Lights On (Ira Sachs, 2012).

Não foi por acaso que o filme inglês Weekend foi o escolhido para abertura do Festival: foi um dos filmes de temática gay mais premiado e aplaudido do ano.
 O enredo do filme é relativamente simples: dois homens conhecem-se uma noite num bar e passam um fim-de-semana juntos. Mais do que a história de engate aparentemente banal, é nos dois protagonistas e nas conversas entre eles que está o interesse do filme. Russell (Tom Cullen), menos aberto sobre a sua orientação sexual, vê-se confrontado com uma visão diferente do mundo por Glen (Chris New). Glen não entende o porquê da vergonha em ser-se homossexual e em falar-se abertamente sobre isso, da mesma forma que os heterossexuais o fazem, despreocupadamente. Por outro lado, Russell não entende a recusa de Glen em procurar uma relação séria com alguém. Ainda assim procuram passar o pouco tempo que tem - um fim-de-semana, juntos, mesmo sabendo que não se voltarão a ver.
Mesmo não tendo um “final feliz”, é um filme bonito, com o qual facilmente qualquer pessoa se pode identificar; fala sobre as diferentes expectativas que cada um tem numa relação, sobre a necessidade de ter alguém e a busca pela aprovação e aceitação.


            Bem diferente de Weekend, o filme Keep The Lights On foi vencedor do Prémio Para Melhor Longa Metragem no Queer Lisboa e ainda do Prémio para Melhor Actor para Thure Lindhart. Foi, aliás, este ator um dos motivos que me levou a ver este filme – já o havia visto na edição deste ano do Festival Indie Lisboa, no filme alemão Formentera (Ann-Kristin Reyels, 2012).
            Este filme fala também da história de um casal mas, desta vez, não num fim-de-semana, mas sim no período de uma década. Erik (Thure Lindhart) e Paul (Zachary Booth) conhecem-se através de uma linha erótica e, depois de alguns encontros, começam uma relação que irá durar vários anos. Desde o princípio que Erik está a par do hábito de consumo de drogas de Paul, “o seu pequeno segredo”, que se agrava ao longo do tempo. Cruamente real, o filme vai mostrando de forma explícita os viciosos ciclos de euforia e depressão das dependências de Paul – de crack e de Erik - e as suas reabilitações e recaídas.
            Não é um filme fácil nem é propriamente um filme “bonito”. No entanto, é impossível não pensar nele ao sair da sala de cinema. Sem dúvida, grande destaque para a belíssima interpretação de Thure Lindhart e ainda para a banda sonora (que “não é mero papel de parede”).



            Quase sempre afastado das salas de cinema e do sucesso comercial, o cinema queer tem-nos mostrado boas películas nos últimos anos. Estes dois filmes são bons exemplos disso. Tenho esperança que no futuro se vejam mais destes filmes nas salas de cinema, que comecem a aparecer mais personagens LGBT nas grandes e pequenas produções sem que, para isso, seja necessária a existência de uma “categoria” especial para os classificar e publicitar. 

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