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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Estado de governo: segurança ou liberdade?




Thomas Hobbes

Quando pensamos em construção estatal democrática, vem-nos à memória a obrigatoriedade de todas as decisões serem tomadas para bem daqueles que por nós decidem e aos quais cedemos a nossa liberdade de escolha, para que a nossa segurança seja salvaguardada. Inconscientemente, acreditamos que a segurança vale mais do que a liberdade, já que sem aquela, a própria liberdade seria impossível, dado que o ser humano não conseguiria conviver em sociedade. Esta organização estruturada em democracia só existe para que não voltemos a um patamar hipotético onde tudo é mau – na verdade, é o pior possível – e onde o homem se guia pela lei do mais forte, a única lei existente, para conseguir atingir o que quer que seja, lutando com a sua vida.
O conceito de liberdade é aquele de que cada um pode fazer o que lhe apetece, sem haver nada que o castre. Ao fim ao cabo, a liberdade total concretiza-se na ausência de liberdade, como facilmente entendemos. A esta descrição, Thomas Hobbes chama de estado de natureza. O estado hipotético no qual o ser humano vive para se satisfazer a si próprio, utilizando a sua força e fazendo primar o seu egoísmo e egocentrismo.
            Como sai o ser humano do estado de natureza? ‘Assinando’ um contrato onde há precisamente a negação dessa liberdade, alienando os seus deveres e transferindo-os para pessoa do Estado. Então, o Estado de Hobbes é aquele em é estabelecido um contrato entre as pessoas para que se possa dar a harmonia entre as mesmas e assim serem criadas leis, que informam o indivíduo dos seus interesses. Há uma entidade superior que sabe o que é melhor para nós e por essa razão, como confiamos nela, delegamos qualquer direito na mesma. Neste Estado, não há direitos inalienáveis, porque nós somos o Estado.
            Mas não nos enganemos! A teoria de Hobbes ainda não contempla o direito de revolução – a não ser que o Estado o declare, o que será difícil, como veremos. Atentemos que foi escrito depois da entrada do Exército Invencível Espanhol em Inglaterra, onde se vivia um clima de medo. O que é que era necessário? Alguém Todo-Poderoso que personificasse o Estado, regendo o mesmo em prol do melhor interesse de quem o constitui. A partir do momento em que cedemos os nossos direitos, renegamos à liberdade de ação, mas a segurança é-nos garantida.
            É preciso frisar que o ser humano de Hobbes não é igual ao ser humano de Aristóteles – neste último, somos propensos à organização em sociedade e a negação da mesma leva-nos a ‘sair’ da nossa natureza. No caso de Hobbes, o que acontece é que a nossa natureza é sermos individuais, mas para garantir a nossa sobrevivência durante mais tempo, temos que nos organizar socialmente, já que a vontade suprema de cada homem é a vontade de poder, que não se coaduna com a vivência em sociedade. Assim, a passagem do estado de natureza para o estado civil é um caso de vida ou de morte, literalmente.
            É certo que o indivíduo não se poderá conceber fora do Estado. Mas, como disse, isto não é um acordo, porque este implica a opção de não o fazermos. Do que se trata aqui é de um contrato – ou, para sermos simpáticos, de um acordo necessário – em que o ser humano não tem outra opção. Não estamos a falar de um consentimento ou de uma concórdia, mas sim de uma obrigação. O Homem só é livre até ao momento em que é obrigado a fazer parte do Estado. A partir daí, já lhe pertence, já é ele, com a ilusão de que é livre e tem direitos, quando na verdade é a criação de leis por aquele em que ele, à partida, confia, que determinam de que forma age. Do contrato, somos autores plenos. A partir daí, de nada mais, já que temos que ter uma autorização para agir. A isto, chama leis.

Uma das questões que fica no ar, depois desta muito reduzida explicação acerca do estado civil, é a seguinte: e se a lei for injusta? Ou, mais profundamente, e se eu pensar de forma diferente do estado?

Hobbes, de Calvin and Hobbes


Talvez o leitor, depois de esclarecido, consiga encontrar semelhanças entre este absurdo Estado e o Estado onde se encontra.


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