por Miguel Furtado
Descoberta no final da década de 30 e estudada maioritariamente devido
à necessidade de evolução tecnológica provocada pela Segunda Guerra
Mundial, a energia nuclear é, desde então, um tópico bastante controverso.
Consiste na alteração de núcleos atómicos e consequente libertação de energia
sob a forma de calor e radiação.
Actualmente, o urânio é a fonte mais utilizada por ser a mais vantajosa,
mas existem outras como o plutónio, tório e hélio-3. Este último tem uma
particularidade curiosa de que falarei adiante. Aqui fica um video muito
simples sobre a energia nuclear.
Numa altura em que se recorre, cada vez mais, a alternativas aos
combustíveis fósseis seja devido à sua rentabilidade como ao seu
factor ecológico, esta energia surge como uma das principais candidatas a
assumir a liderança do monopólio energético. O seu poder é excepcional!
Pequenas quantidades de urânio podem alimentar áreas enormes e, apesar de ser
necessário um forte investimento inicial, a sua exploração e consumo tornam-se
“baratos” se tivermos em conta a sua produção. O seu rendimento é, portanto,
muito superior a qualquer outro tipo de fonte de energia.
Ainda no âmbito da substituição dos combustíveis fósseis, está a ser
estudada a possibilidade de produzir hidrogénio a partir de reatores
nucleares. Apesar de ser uma fonte energética renovável, não está diretamente
acessível na Natureza, mas a sua produção via nuclear seria, novamente, muito
eficiente comparada com a dos restantes processos, e ecológica tendo em conta a
de petróleo, carvão e gás natural.
É de ter em conta ainda que o estudo desta área levou, e muito
provavelmente continuará a levar, ao desenvolvimento científico de inúmeras
áreas como a Medicina, Indústria Farmacêutica, Agricultura, etc. Em particular,
a Medicina Nuclear permitiu o progresso da tomografia, realização de outros
diagnósticos de alta qualidade e de terapias como a destruição de tecidos
corporais indesejáveis (tumores cancerígenos ou a glândula
da tiróide hiperativa).
A título de curiosidade, é de referir que Portugal possuí um reator nuclear
de investigação! Aos leitores que queiram saber mais sobre o mesmo, recomendo a
leitura do artigo no final deste artigo.
Associado a estas vantagens existem, também, diversos pontos contra. Em
primeiro lugar, apesar de não se prever que as reservas de urânio acabem a
curto ou médio prazo, estas não são, na realidade, renováveis. No entanto
existem já alguns tipos de reatores onde é possível reaproveitá-lo, podendo
indicar que, com a continuação da investigação do processo, no
futuro seja possível existir uma gestão sustentável do recurso, i. e., que este
seja reposto na Natureza a uma taxa semelhante à que é explorado.
Outra desvantagem é o urânio não
estar distribuído homogeneamente por todo o planeta. Como tal,
para apostar na energia nuclear, a maioria dos países teria que o comprar a um
grupo restrito de nações que, assim, teriam o controlo económico sobre o
elemento e, consequentemente, sobre a energia em questão. Problema este que é
comum, por exemplo, ao petróleo, como reparamos sempre que vamos a uma bomba de
gasolina.
Mas estes podem ser considerados males menores comparado com a poluição
radioactiva e térmica libertada. Embora não tão grave como no caso dos
combustíveis fósseis, o tempo de vida dos resíduos é relativamente elevado
tendo em conta o seu impacto ambiental e as águas envolvidas no processo, que
se encontram a temperaturas muito elevadas, podem causar a
destruição dos ecossistemas onde desaguam. Além disso, e talvez o aspecto a ter
mais em conta, é a probabilidade de ocorrência de acidentes por falhas humanas
ou técnicas e que, apesar de ser muito reduzida, tem consequências
devastadoras. Os danos para o ambiente e para a saúde (humana e não só) são
imensos, afectando também as gerações vindouras uma vez que a radiação pode
continuar a ser libertada por vários anos.
Abaixo está representada a área geográfica que a radiação do acidente de
Chernobyl atingiu. O último acidente nuclear ocorreu a 11 de março de 2011 em
Fukushima.
Carregar para ampliar
Por fim, outro problema bastante grave é que, tal como o seu
desenvolvimento inicial indica, esta tecnologia pode ser utilizada para fins
bélicos, o que causa grande preocupação e instabilidade. De facto, a bomba
atómica é a arma mais poderosa actualmente conhecida e cada vez mais países
procuram ter, em sua posse, este tipo de armas nucleares. Recentemente os casos
do Irão e da Coreia do Norte tornaram-se do domínio público.
Antes de realizar as minhas considerações finais, vou redigir algumas
linhas sobre o hélio-3 (He-3), visto como um potencial combustível para
reacções de fusão nuclear. Este gás é extremamente raro na Terra, mas pensa-se
que possa existir em abundância na Lua e o seu poder é tal que apenas 15 a 20
toneladas serviriam para suprir o consumo eléctrico doméstico dos Estados
Unidos da América durante um ano (493 MWh por cada 3g de He-3). Outro
ponto muito positivo é que a sua fusão emite muito menos radiação que as fontes
até agora conhecidas. Porém, ainda não existe a tecnologia necessária para que
este processo seja rentável, isto porque, até hoje, requer mais energia do que
aquela que produz (os reatores atuais funcionam através de fissão nuclear), nem
conhecimento para transportá-lo da Lua até ao nosso planeta. Já para não falar
da discussão acerca da colonização da Lua ou do lixo espacial associado.
Em jeito de conclusão, a meu ver, apesar das atuais inúmeras desvantagens,
a energia nuclear poderá ser fulcral num futuro não tão distante. Não sou a
favor, no entanto, da sua exploração sem que, primeiramente, ocorra o
desenvolvimento de métodos e mecanismos de segurança fidedignos. Todavia, a
sociedade actual, no seu geral, ambiciona resultados e lucros imediatos, não se
preocupando o suficiente com as consequências que podem existir por obtê-los
desta forma. O efeito pode ser o contrário do pretendido e acabar por se “pagar
caro” no fim… Por isto tudo, se por um lado o uso desta ciência para armamento
deva ser reprovado, por outro, um forte incentivo deverá ser dado ao
desenvolvimento da tecnologia nuclear nos âmbitos da diminuição do impacto
ambiental, reaproveitamento dos recursos e prevenção de acidentes para uma
posterior utilização da energia sem riscos e potencialização da mesma,
aproveitamento, deste modo, os seus benefícios com segurança. É caso para
dizer, tal como o tio Ben: “With great power comes great responsibility”!
E
não, nada tem a ver com o Hulk!
Artigo 1 - O nosso reator (SuperInteressante)
Sem comentários:
Enviar um comentário