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sábado, 13 de outubro de 2012

Energia Nuclear: “Com um grande poder vem uma grande responsabilidade”


por Miguel Furtado

Descoberta no final da década de 30 e estudada maioritariamente devido à necessidade de evolução tecnológica provocada pela Segunda Guerra Mundial, a energia nuclear é, desde então, um tópico bastante controverso. Consiste na alteração de núcleos atómicos e consequente libertação de energia sob a forma de calor e radiação.
Actualmente, o urânio é a fonte mais utilizada por ser a mais vantajosa, mas existem outras como o plutónio, tório e hélio-3. Este último tem uma particularidade curiosa de que falarei adiante. Aqui fica um video muito simples sobre a energia nuclear.



Numa altura em que se recorre, cada vez mais, a alternativas aos combustíveis fósseis  seja devido à sua rentabilidade como ao seu factor ecológico, esta energia surge como uma das principais candidatas a assumir a liderança do monopólio energético. O seu poder é excepcional! Pequenas quantidades de urânio podem alimentar áreas enormes e, apesar de ser necessário um forte investimento inicial, a sua exploração e consumo tornam-se “baratos” se tivermos em conta a sua produção. O seu rendimento é, portanto, muito superior a qualquer outro tipo de fonte de energia.
Ainda no âmbito da substituição dos combustíveis fósseis, está a ser estudada a possibilidade de produzir hidrogénio a partir de reatores nucleares. Apesar de ser uma fonte energética renovável, não está diretamente acessível na Natureza, mas a sua produção via nuclear seria, novamente, muito eficiente comparada com a dos restantes processos, e ecológica tendo em conta a de petróleo, carvão e gás natural.
É de ter em conta ainda que o estudo desta área levou, e muito provavelmente continuará a levar, ao desenvolvimento científico de inúmeras áreas como a Medicina, Indústria Farmacêutica, Agricultura, etc. Em particular, a Medicina Nuclear permitiu o progresso da tomografia, realização de outros diagnósticos de alta qualidade e de terapias como a destruição de tecidos corporais indesejáveis (tumores cancerígenos ou a glândula da tiróide hiperativa).


A título de curiosidade, é de referir que Portugal possuí um reator nuclear de investigação! Aos leitores que queiram saber mais sobre o mesmo, recomendo a leitura do artigo no final deste artigo.

Associado a estas vantagens existem, também, diversos pontos contra. Em primeiro lugar, apesar de não se prever que as reservas de urânio acabem a curto ou médio prazo, estas não são, na realidade, renováveis. No entanto existem já alguns tipos de reatores onde é possível reaproveitá-lo, podendo indicar que, com a continuação da investigação  do processo, no futuro seja possível existir uma gestão sustentável do recurso, i. e., que este seja reposto na Natureza a uma taxa semelhante à que é explorado.
Outra desvantagem é o urânio não estar distribuído homogeneamente por todo o planeta. Como tal, para apostar na energia nuclear, a maioria dos países teria que o comprar a um grupo restrito de nações que, assim, teriam o controlo económico sobre o elemento e, consequentemente, sobre a energia em questão. Problema este que é comum, por exemplo, ao petróleo, como reparamos sempre que vamos a uma bomba de gasolina.
Mas estes podem ser considerados males menores comparado com a poluição radioactiva e térmica libertada. Embora não tão grave como no caso dos combustíveis fósseis, o tempo de vida dos resíduos é relativamente elevado tendo em conta o seu impacto ambiental e as águas envolvidas no processo, que se encontram a temperaturas muito elevadas,  podem causar a destruição dos ecossistemas onde desaguam. Além disso, e talvez o aspecto a ter mais em conta, é a probabilidade de ocorrência de acidentes por falhas humanas ou técnicas e que, apesar de ser muito reduzida, tem consequências devastadoras. Os danos para o ambiente e para a saúde (humana e não só) são imensos, afectando também as gerações vindouras uma vez que a radiação pode continuar a ser libertada por vários anos.
Abaixo está representada a área geográfica que a radiação do acidente de Chernobyl atingiu. O último acidente nuclear ocorreu a 11 de março de 2011 em Fukushima.

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Por fim, outro problema bastante grave é que, tal como o seu desenvolvimento inicial indica, esta tecnologia pode ser utilizada para fins bélicos, o que causa grande preocupação e instabilidade. De facto, a bomba atómica é a arma mais poderosa actualmente conhecida e cada vez mais países procuram ter, em sua posse, este tipo de armas nucleares. Recentemente os casos do Irão e da Coreia do Norte tornaram-se do domínio público.

Antes de realizar as minhas considerações finais, vou redigir algumas linhas sobre o hélio-3 (He-3), visto como um potencial combustível para reacções de fusão nuclear. Este gás é extremamente raro na Terra, mas pensa-se que possa existir em abundância na Lua e o seu poder é tal que apenas 15 a 20 toneladas serviriam para suprir o consumo eléctrico doméstico dos Estados Unidos da América durante um ano (493 MWh por cada 3g de He-3). Outro ponto muito positivo é que a sua fusão emite muito menos radiação que as fontes até agora conhecidas. Porém, ainda não existe a tecnologia necessária para que este processo seja rentável, isto porque, até hoje, requer mais energia do que aquela que produz (os reatores atuais funcionam através de fissão nuclear), nem conhecimento para transportá-lo da Lua até ao nosso planeta. Já para não falar da discussão acerca da colonização da Lua ou do lixo espacial associado.

Em jeito de conclusão, a meu ver, apesar das atuais inúmeras desvantagens, a energia nuclear poderá ser fulcral num futuro não tão distante. Não sou a favor, no entanto, da sua exploração sem que, primeiramente, ocorra o desenvolvimento de métodos e mecanismos de segurança fidedignos. Todavia, a sociedade actual, no seu geral, ambiciona resultados e lucros imediatos, não se preocupando o suficiente com as consequências que podem existir por obtê-los desta forma. O efeito pode ser o contrário do pretendido e acabar por se “pagar caro” no fim… Por isto tudo, se por um lado o uso desta ciência para armamento deva ser reprovado, por outro, um forte incentivo deverá ser dado ao desenvolvimento da tecnologia nuclear nos âmbitos da diminuição do impacto ambiental, reaproveitamento dos recursos e prevenção de acidentes para uma posterior utilização da energia sem riscos e potencialização da mesma, aproveitamento, deste modo, os seus benefícios com segurança. É caso para dizer, tal como o tio Ben: “With great power comes great responsibility”!

E não, nada tem a ver com o Hulk!

Artigo 1 - O nosso reator (SuperInteressante)

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